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Obras de Daniela Marton trazem a influência Matéria, Memória e Imagem de ornamentos da arquitetura para as suas pinturas

O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição individual ‘Matéria e Memoria’, da artista plástica ítalo-brasileira Daniela Marton, texto curatorial Tom Lisboa. A mostra reúne trabalhos produzidos desde 2018, apresentando pinturas, estênceis e arte digital inspirados pela conexão entre a matéria, memoria e a imagem de ornamentos presentes na arquitetura que remetam as memorias da artista, além disso, a artista ira trazer para essas exposições trabalhos anteriores a 2020 para mostrar ao expectador como a memória e a imagem interferiram no processo da artista. O evento acontece no dia 06 de dezembro de 2024, sexta-feira, às 19 horas. As obras poderão ser vistas até 02 de fevereiro de 2025. A entrada é gratuita e tem classificação livre.

Matéria e Memória, texto Daniela Marton
A exposição chamada “Matéria e Memoria” visa apresentar uma série de pinturas que surgiu na época da pandemia onde as relações pessoais passaram a ser feitas a distância, a qual reforçou ainda mais a busca por elementos arquitetônicos que tivessem algum apelo de memória afetiva para a artista. As imagens dos ornamentos acabam sendo ressignificadas, assumindo a função de articuladores das suas memórias e estimuladores das suas lembranças. Embora a pandemia tenha acabado, esse resgate da memória afetiva proveniente dos ornamentos arquitetônicos continua em suas obras, como uma forma de resgatar essas memórias e vivencia-las novamente, recriando novos sentimentos.

O campo pictórico dessa forma acaba ganhando mais corpo, se tornando mais matérico e por sua vez, as imagens começam a sofrer interferências com a materialidade da pintura, que acaba alterando-as, ressignificando assim a recordação afetiva contida nelas.

A pintura se apresenta como um resultado da atualização dessas lembranças, passando assim a matéria fazer parte da memória, de modo que surja o passado e o presente, colocados em comunhão. O acréscimo dos elementos arquitetônicos promove um novo processo artístico, composto por diferentes elementos artísticos: o estêncil (gravura), as fotografias arquitetônicas, o Autocad (software da arquitetura surgindo arte digital).

Para essa exposição, a artista irá expor também pinturas posteriores ao momento da pandemia, visando elucidar o espectador, que o estudo da artista no aspecto da relação matéria continua presente. Sobretudo em relação ao aspecto do uso das cores, onde em alguns momentos remetem as dores sentidas no momento da feitura, principalmente se são causadas por problema de saúde. Em virtude disso, os usos das cores nas pinturas da artista em alguns momentos continuam sendo provenientes das dores, que acabam refletindo em seu trabalho por meio das cores.

SOBRE SERMOS VIAJANTES,  texto curatorial Tom Lisboa
“Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos”. Daniela Marton poderia ser esse viajante citado no livro “As Cidades Invisíveis”, de Italo Calvino. Vinda da arquitetura, ela encontra no território estrangeiro da pintura, talvez, a melhor maneira de "edificar” suas obras. Sua singularidade, contudo, não advém da frieza do cálculo, mas do gesto espontâneo que apaga qualquer rastro de uma fórmula racionalista.

Ao mesmo tempo, a maneira como ela dispõe as camadas de tinta e estabelece entre elas relações cromáticas e táteis, percebemos uma aproximação com o fenomenológico. Somos assim expostos a uma pintura que cria um campo de experiência oriundo desta descontinuidade dos contornos e de uma gama de cores que se desfazem. Mesmo quando usa o AutoCAD (um software utilizado para elaborar peças de desenho técnico) para criar os estêncils que são aplicados sobre as telas, sua finalidade é transfigurada. O que surge são construções desgastadas e instáveis que problematizam, contradizem e expandem conceitos advindos de sua antiga formação acadêmica.

Diferentes cargas emocionais permeiam sua produção. Desde a dor que se converte em cor até as escolhas das imagens que remetem ao universo da arquitetura que coleta da internet e reproduz em cada estêncil. A opção pela coluna jônica, na obra Rupturas, por exemplo, é por considerá-la um dos elementos mais elegantes e simples da arquitetura, por remeter a edificações antigas de Roma e Veneza, mas principalmente, por lembrá-la de uma viagem para visitar sua família na Itália. Nesta tela, a solidez da coluna se desfigura num mar de matéria, cor e gestualidade criando uma nova arqueologia para esta referência clássica.

Por fim, faz-se necessário pontuarmos a importância da dor, tanto física quanto psicológica, em suas escolhas cromáticas e também de escala, já que em momentos de profundo sofrimento ela chegou a optar por telas de menor dimensão. Giulio Carlo Argan observou, a respeito da obra de Van Gogh, uma característica que encontro nas obras de Daniela: “a matéria pictórica adquire uma existência autônoma, exasperada, quase insuportável; o quadro não representa: é”. Ao percorrermos o conjunto de seus trabalhos embarcamos em um mundo de símbolos e mensagens que nos instigam e desafiam. Passamos a ser viajantes em processo de autodescoberta.

Sobre a artista
Daniela Marton atualmente vive e trabalha em Curitiba. Artista graduada em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie (2011) e em Artes Visuais licenciatura pela UNESPAR Universidade Estadual do Paraná (2021). Mestre em Poéticas Visuais Pintura pela UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul  (2023). Realizou uma série de cursos livre de pintura e desenho, na Escola Parque Lage e no Museu Alfredo Andersen. Artista Visual, suas obras possuem ênfase em pintura e escultura.

Possui obras em acervo institucional através de prêmios aquisitivos no Brasil, como na Pinacoteca da Universidade Federal de Viçosa em MG; em coleções particulares. Participa de exposições coletivas em salões, museus, pinacotecas e Bienais no Brasil e no exterior desde 2017.  Como por exemplo, participou da Bienal de Salerno na Itália (2018), Bienal The Wrong nos EUA (2019 e 2021) e da Bienal Oswaldo Goeldi (2020) em Taubaté/SP. Premiada na Bienal de Salerno na Itália. Participou dos Salões de Pinhais (2023 e 2024) , Vinhedo (2017) , Navegantes (2019) e Univap (2024). Principais exposições individuais no Centro Cultural USP (2025), Centro Cultural do Museu UFMG (2024) , MAM Resende (2022), Museu Alfredo Andersen (2023), Pinacoteca de Viçosa (2021 e 2024), Pinacoteca Taubaté (2023), entre outros.

Sobre o autor do texto curatorial
Tom Lisboa  Tom Lisboa é Mestre em Comunicação e Linguagens e atua como artista visual , professor de cinema e fotografia e curador independente. Está radicado em Curitiba desde 1987.
Em 2012, recebeu o Prêmio FUNARTE Marc Ferrez de Fotografia e, em 2005, o Prêmio Porto Seguro de Fotografia, na categoria pesquisas contemporâneas, com a série polaroides (in)visíveis. Neste mesmo ano, foi ainda mapeado pelo Rumos Itaú Cultural.

Foi um dos artistas brasileiros selecionados para Bienal de Cerveira (2013), em Portugal, e tem participado como convidado dos principais festivais de fotografia do país (Paraty em Foco, Fest POA, Foto Arte, Semana da Foto em Curitiba) e do exterior (Encuentros Abiertos/Argentina e PhotoVisa/Russia).
Integrou a equipe curatorial da Bienal Internacional de Curitiba (2017, 2016, 2014, 2013 e 2009).
 
Exposição "Matéria e Memória" – Daniela Marton
Abertura:
06 de dezembro de 2024 | às 19h
Visitação: até o dia 02/02/2025
Terças a sextas: 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados: 9h às 17h
Sala Celso Renato de Lima
Classificação indicativa: livre

Avenida Santos Dumont 147, centro, Belo Horizonte
Entrada gratuita

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