Herbário celebra aniversário
UFRJ promove evento online em comemoração aos 67 anos de criação do Herbário do Departamento do Instituto de Biologia
Repasso aos leitores d’O Folha de Minas e ao público em geral o convite para participar das comemorações dos 67 anos de criação do Herbário do Departamento do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – que acontecerão nesta quinta-feira, dia 8/7. O evento, devido à atual situação da crise sanitária da pandemia do COVID-19, será remoto, contendo, no link https://drive.google.com/file/d/1LH9SD4xrsW2FpHV9j1YeAldmZOmYVNTA/view toda a programação. Para a drª Rosana Conrado Lopes, curadora do herbário, a celebração de aniversário traduz-se em importante oportunidade de estender à população significativo acervo da UFRJ de plantas, de algas, de líquenes ou de fungos, desidratados. Os acervos estão disponíveis em http://rfa.jbrj.gov.br/v2/consulta.php ou http://splink.cria.org.br/manager/detail?resource=RFA. Inscrição https://docs.google.com/forms/d/1pjBf9G6yoVgywR9sJcSLK2l3i-G1_8fz0NvIDzss_bE.
O herbário foi criado pelo professor Paulo Occhioni, em 1954, para atender às atividades de ensino e pesquisa. A coleção teve início a partir das coletas resgatadas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, representadas por 794 exsicatas da Coleção da Flora Europeia do botânico J.C. Ducommun. Posteriormente, a coleção foi incrementada com amostras da Flora do Rio de Janeiro. Atualmente, constam no herbário 45.260 espécimes de todos os grupos vegetais e fungos. Destacam-se 118 tipos nomenclaturais e duas coleções auxiliares, como a Carpoteca e a Fototeca. O RFA é uma coleção dinâmica que se preocupa com a divulgação científica e com as atividades que envolvem o ensino, a extensão e a pesquisa, principalmente por ser parte da universidade.
Conforme publicação do periódico oficial do Jardim Botânico Floras da Universidade do Sul da Bahia, “as coleções biológicas são representadas por um conjunto de organismos, ou partes destes, preservados geralmente fora do ambiente natural. As amostras são preparadas de acordo com protocolos específicos a cada coleção, organizados de modo a informar procedência e a identificação taxonômica de cada espécime, o que lhe confere o status científico. Entre as várias coleções biológicas, destacamos neste trabalho o Herbário, que é o termo designado para retratar uma coleção de plantas, de algas, de líquenes ou de fungos, desidratados. O Herbário é um importante repositório de biodiversidade, reconhecido por alguns autores como uma ‘máquina do tempo’ ou uma ‘mina de ouro’ de informações, com função principal de servir como um recurso essencial para estudos em taxonomia, sistemática, ecologia, anatomia, morfologia, conservação, biodiversidade, etnobotânica e paleobiologia.
Atualmente, as informações das exsicatas contidas nos herbários vêm sendo aproveitadas de maneiras inovadoras, não previstas pelos colecionadores originais, mas aplicadas a um novo cenário, onde as coleções passam a serem essenciais para pesquisas avançadas que podem envolver temas como o controle da disseminação de doenças infecciosas ou até mesmo respostas para as mudanças climáticas e outros grandes desafios. De acordo com os dados disponíveis no Catálogo da Rede Brasileira de Herbários, existem no Brasil 200 herbários ativos, sendo que as quatro maiores coleções estão no Sudeste: Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com 800 mil amostras; Herbário do Museu Nacional com 550 mil; Herbário Maria Eneyda P. K. Fidalgo, com 497 mil e Sul Herbário do Museu Botânico Municipal (MBM), com 425 mil.”
O acervo do Herbário do Departamento de Botânica, vinculado ao Instituto de Biologia da UFRJ iniciou-se no antigo curso de História Natural da Faculdade Nacional de Farmácia do Rio de Janeiro, sob a curadoria do professor Paulo Occhioni, que começou a organizar a coleção assim que assumiu a Cátedra de Botânica Aplicada à Farmácia. A partir da recuperação dos materiais dos catálogos depositados em latas, no antigo Herbário, abandonado da Faculdade Nacional de Medicina, foi possível resgatar algumas coletas de Freire Alemão e a coleção da Flora Europeia do botânico Suíço J.C. Ducommun (1829–1892), a qual estava bem conservada.
Acredita-se que esta doação teria sido adquirida por D. Pedro II (Occhioni, 1960–1962ab; Lopes; Oliveira, 2015). A coleção originalmente foi criada com o objetivo de servir como suporte didático às disciplinas de Botânica e acrescida, posteriormente, com materiais de excursões botânicas realizadas em diversas regiões fitogeográficas do Brasil e intercâmbio entre herbários. Devido a inúmeras reformas no ensino, a guarda dessa coleção foi transferida várias vezes e atualmente, encontra-se no Instituto de Biologia. Desde 1978, o Herbário RFA é reconhecido no Index Herbariorum, catálogo mundial de herbários, coordenado pelo Jardim Botânico de Nova York (Thiers, 2016).
O RFA participou de importantes editais, com os projetos “Herbário RFA: Organização, Ampliação, Informatização, Manutenção e Criação de Herbário Virtual Infraestrutura” (2004–2007) e “Herbário RFA: Infraestrutura” (2005–2007), que tiveram o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Com o auxílio das agências de fomento foi possível fazer melhorias nas condições de preservação da coleção.
O RFA participou da Rede Fluminense de Herbários do Rio de Janeiro. Neste período, com a aprovação do Projeto de Informatização dos Herbários Fluminenses, submetido à FAPERJ, foi possível adquirir equipamentos de informática, lupa e armários para acondicionar a coleção. Hoje, o RFA integra a Rede Brasileira de Herbários, onde parte de seus dados estão disponíveis na página da Sociedade Botânica do Brasil (SBB, 2021).
Em 2016 passou a integrar o programa REFLORA (http://reflora.jbrj.gov.br), onde, por um ano, contou com um bolsista para o trabalho de informatização dos dados e, em 2018, aderiu ao projeto Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Herbário Virtual da Flora e dos Fungos do Brasil (http://splink.cria.org.br/), com o objetivo de aumentar a visibilidade e o acesso público da coleção. Neste estudo, o RFA visa mostrar a importância do seu acervo e apresentar as suas principais atividades e contribuições no ensino, pesquisa e na extensão e para a Flora Brasileira.
Material e Métodos - Foi feito o levantamento das atividades desenvolvidas no Herbário RFA, que inclui o suporte ao ensino e à pesquisa desde a sua origem. Recentemente, nos últimos cinco anos e com a formação de uma nova equipe, as ações de extensão foram impulsionadas e passaram a fazer parte da rotina do herbário. Na pesquisa foi avaliada a atuação do herbário RFA como importante instrumento para o desenvolvimento da ciência e, em parte, para o reconhecimento da biodiversidade da Flora Brasileira. A informatização dos dados da coleção teve início a partir de 2009 e, posteriormente, a sua divulgação nas plataformas do JABOT e na rede Species Link, que possibilitaram o uso de ferramentas que facilitaram a obtenção dos resultados tratados neste estudo. Independente dos tipos de projetos, toda amostra botânica incorporada na coleção segue as normas do Regimento do Herbário RFA do Departamento de Botânica, Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e particularidades referentes à preservação da amostra, conforme indicado no manual de técnicas de Fidalgo e Bononi.
Resultados e Discussão - Coleção Botânica do RFA. Constam atualmente no herbário 45.260 espécimes de todos os grupos vegetais e fungos. De 2015 a 2020 o número de tipos nomenclaturais na coleção quase quadruplicou, representado por 64 amostras de fungos, 52 angiospermas, uma samambaia e uma alga. Embora o RFA possua amostras de países europeus e latino-americanos originárias de permutas, que representam 7% da coleção, a maior representatividade está nas amostras da Flora do Estado do Rio de Janeiro, que perfazem 46%, geralmente coletadas fora de Unidades de Conservação, totalizando 21.016 exsicatas.
A coleção está representada por 83,31% de Angiospermas, 9,08% de Algas, 4,90% de Fungos, 2,21% de Samambaias e Licófitas, 0,47% de Briófitas e menos de 0,03% de Gimnospermas. As dez famílias com maior representatividade no RFA são Fabaceae (com 9,74% amostras), Asteraceae (5,91%), Rubiaceae (4,52%), Myrtaceae (3,10%), Melastomataceae (2,93%), Lamiaceae (2,80%), Dictyotaceae (2,31%), Poaceae (2,16%), Apocynaceae (2,12%) e Solanaceae (2,09%), que perfazem juntas 37,68% da coleção. A maioria das famílias citadas é de angiospermas, que também apresentam grande diversidade para o bioma Mata Atlântica. Apenas Dictyotaceae não se insere neste grande grupo, por ser uma alga parda.
Ilustres botânicos que contribuíram com publicações sobre a flora brasileira foram vitais para o incremento do herbário RFA. Mesmo sendo uma coleção pequena, esta possui sua singularidade, principalmente por apresentar uma importante coleção de tipos de fungos e devido aos projetos vinculados à coleção.
Quanto à coleção de fungos e seus tipos nomenclaturais, mais de 1.500 amostras foram adquiridas durante a atuação do professor Verlande Duarte Silveira, na instituição. Este importante engenheiro agrônomo também foi curador do Herbário Micológico Arsène Puttemans e devido a sua grande contribuição na área de ensino, foi homenageado em 1984 e 1991 pela Sociedade Brasileira de Fitopatologia.
O RFA conta com duas coleções auxiliares, a Carpoteca (33 amostras) e a Fototeca (128 imagens). Embora representadas por um número de amostras reduzidas, estes materiais já foram de grande importância, principalmente quando o acesso a coleções no exterior era mais difícil. A internet só começou a se popularizar a partir da década de 1990, quando os primeiros bancos de dados de herbários começaram a ser disponibilizados.
Pesquisa - Em prol do ensino e da pesquisa da UFRJ para o mundo, a coleção do Herbário RFA apoia projetos desenvolvidos por alunos da graduação, da pós-graduação e pelos pesquisadores do Instituto de Biologia, do Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes, do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais, do Instituto de Química, da Faculdade de Farmácia, da Faculdade de Medicina, da Pós-Graduação do Museu Nacional e do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental de Macaé.
A cooperação do RFA em projetos com outras instituições também foi um dos fatores que propiciaram o crescimento da coleção. A parceria com a Extracta Moléculas Naturais S/A (de 2000 atébuiu com 420 amostras 2004) possibilitou um acréscimo de 4.407 exsicatas de espécies nativas, também utilizadas para o preparo de importantes extratos nos estudos farmacêuticos. As amostras estão atualmente armazenadas no Laboratório de Extratos do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais, localizado no Centro de Ciências da Saúde da UFRJ - CCS. Desde 2013, a colaboração com a Fiocruz gerou um acréscimo de aproximadamente 300 exsicatas originárias dos projetos: “Pesquisa de espécies vegetais superiores com atividades imunorreguladora e antiviral”, “Avaliação do perfil químico e farmacológico de extratos e frações das partes aéreas de Malpighiaglabra L.”, “Plantas da Itaipu Binacional Refúgio Biológico Bela Vista Ervanário Plantas Medicinais, Foz do Iguaçu”, “APL Petrópolis”, “Plantas Medicinais do Fórum Itaboraí/Fiocruz-Petrópolis” e “Aroeira Novos Tempos, Novos Rumos”, todos associados ao uso de espécies nativas e saberes tradicionais.
Com essas contribuições durante toda existência desta coleção, é possível observar que os herbários, em geral, são essenciais por permitirem a documentação permanente de importantes exsicatas, que podem estar associadas a importantes patentes biotecnológicas ou a diferentes flórulas que se modificam ao longo do tempo, tanto pela ação antrópica ou por efeitos adversos, como perturbações naturais que alteram a cobertura vegetal (Fagundes; Fortes, 2006).
Ensino - Nas salas de aula, especificamente nas turmas de Botânica dos cursos de Ciências Biológicas e de Farmácia, a equipe do herbário desenvolve junto com os professores da UFRJ e com os alunos todas as atividades que envolvem a coleta do material botânico e os demais procedimentos de herborização. Anualmente são atendidos cerca de 300 alunos, matriculados em oito disciplinas, compreendidas em 11 turmas, alem das solicitações ocasionais. A partir desta atividade, o aluno desperta para o conhecimento da Botânica e começa a compreender a importância dos herbários no contexto da biodiversidade e demais áreas multidisciplinares. É importante ressaltar que um herbário é também um forte instrumento didático para o treinamento de estudantes e técnicos no reconhecimento da flora de um determinado local ou região.
Extensão - Como partes da rotina do RFA são comuns atividades que envolvem o atendimento ao público externo, incluindo escolas e alunos de universidades. Contabiliza, desde 1989 até o ano de 2020, mais de 1.100 pessoas, brasileiras e estrangeiras, que visitaram o herbário. Os nomes e interesses específicos estão indicados nos livros de registro de visitantes.
Para atender a um público maior e mais variado, a equipe do RFA conta com projetos de extensão, que englobam o preparo de materiais educacionais para crianças e jovens, disponibilizados presencialmente em atividades externas ou por meio digital. Dentre as atividades de extensão, ocorrem visitas guiadas de escolas, “Herbário de portas abertas” (período de integração dos calouros), “Aniversário RFA” (ciclo de palestras, oficinas ou minicursos), “LabAmigo” (visitação ao herbário durante a BioSemana UFRJ, uma parceria com o Centro Acadêmico de Ciências Biológicas), “Jovens Talentos” (atividades dos alunos de ensino médio no RFA), “Oficina da coleta ao preparo de exsicatas” (para cursos de graduação), “Vivência no RFA” (complementação da carga horária de graduandos no RFA), “Uns minutinhos com o RFA” (vídeos informativos criados para esclarecer dúvidas dos alunos durante o estágio no RFA) e “Revistinha RFA” (um novo projeto que visa simplificar para as crianças e os jovens a importância das coleções botânicas, com desenvolvimento de atividades lúdicas).
O periódico oficial do Jardim Botânico Floras da Universidade do Sul da Bahia finaliza observando que “desmistificando o antigo senso comum de que as coleções estão associadas apenas a depósitos, conclui-se que o herbário é uma coleção dinâmica muito importante. Auxilia a entender sobre o passado por meio da consulta de coletas históricas, retrata o presente quando continuamos a incrementar o acervo e auxilia na resolução de problemas no futuro devido ao banco de dados produzido ao longo de muitas vidas. Além disso, tem um papel importante na divulgação da ciência e na formação de novos cientistas. A divulgação científica é um importante recurso que auxilia no sucesso das atividades que envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão, sendo uma das metas que a equipe se empenha em cumprir.
Considerando a relevância das coleções botânicas, podemos sugerir mais zelo, colaboração pública e privada para a manutenção dos acervos. Há aqueles que sugerem que uma exsicata poderia ser monetizada, no valor simbólico de, no mínimo, dez dólares. No entanto, não podemos esquecer que cada exemplar é singular. Como exemplos, não é possível valorar uma coleta histórica realizada no século XVIII por um importante naturalista, ou que seja originária de uma região que hoje é desmatada, ou mesmo indicar o valor de uma exsicata representada por uma espécie hoje extinta. Por isso, esse patrimônio científico conta com acervo de valor inestimável.”
A equipe do Herbário do Departamento do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - mantém-se atualizada e sempre disposta a criar subsídios que possam auxiliar no ensino, pesquisa e extensão. A participação nas redes sociais, como no Facebook (@Herbario.rfa) e no Instagram (herbariorfa.ufrj), auxilia na divulgação científica de forma popular, todo o trabalho realizado. Para correspondência, herbário está localizado na Rua Rodolpho Paulo Rocco, s/n, Bloco A, Sala A1-066, no Centro de Ciências da Saúde - CCS -, na Ilha do Fundão, na Cidade Universitária - RJ - CEP 21.941 617. Atende nos tels: (21) 3938-6324 e 3938-6326 ou no correio eletrônico herbário@biologia.ufrj.br.
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