A primeira medalha de ouro do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro é de uma carioca, nascida em uma favela e que começou a lutar em um projeto social. Rafaela Silva é a nova campeã dos leves (57kg) do judô, após bater a mongol Sumiya Dorjsuren, atual líder do ranking mundial, nesta segunda (08).
Técnico da seleção brasileira, Mário Tsutsui disse que a luta mais difícil foi a da semifinal. "Contra a romena, que foi decidida só no golden score [a morte súbita do judô], foi tenso. A Rafaela sentiu a pressão de lutar por uma final olímpica. Mas quando vimos a mongol ganhando da japonesa, ficamos confiantes e sabíamos que ela tinha uma chance muito grande de ganhar a medalha de ouro”, comentou - Dorjsuren venceu a atual campeã olímpica, Kaori Matsumoto.
Com sua família e amigos nas arquibancadas, Rafaela cresceu com a vibração do público e reverteu um histórico incomodo: em cinco lutas contra a asiática, tinha vencido apenas uma vez, no ano passado. "Mesmo assim, sabíamos que a mongol não era perfeita. Trabalhamos muito em cima dela e sabíamos que ela abria a guarda para contra-golpes. Foi assim que veio o golpe da vitória", explicou Tsutsui.
Na Arena Carioca 2, Rafaela Silva venceu a mongol por um wazari. A vantagem a permitiu controlar a luta, inclusive mantendo a rival longe e recebendo duas penalidades.
A história da campeã olímpica
Aos cinco anos, Rafaela saiu da Cidade de Deus, a comunidade carente e violenta que ficou famosa com o filme homônimo de Fernando Meireles, para se tornar a melhor judoca que o Brasil já teve. Em 2013, foi campeã mundial, também em sua casa, no Rio de Janeiro. Nenhum outro judoca do país tem títulos olímpicos e mundiais. Sarah Menezes, Aurélio Miguel e Rogério Sampaio têm ouros olímpicos, mas nunca venceram Mundiais. João Derly (duas vezes), Tiago Camilo, Luciano Correa e Mayra Aguiar têm o Mundial, mas não o ouro olímpico.
A história da judoca começou em uma academia montada em sua rua, quando seus pais buscavam uma atividade para acalmar a menina brigona. O destino fez com que Geraldo Bernardes, o técnico de Flavio Canto, medalhista de bronze dos Jogos de Atenas-2004, visse na garota uma futura campeã. Ela foi treinar no Instituto Reação, que Bernardes e Canto criaram para ensinar judô em comunidades carentes.
Em 2008 o trabalho já dava resultado, com o título mundial sub-20. Em 2009, foi a melhor brasileira no Mundial de Roterdã, com um quinto lugar. Em Londres-2012, já vice-campeã mundial, quase deixou o esporte. Eliminada por tentar um golpe ilegal, acabou bombardeada com mensagens racistas em redes sociais. Reagiu. Quando chegou no Brasil, queria parar.
A família, Bernardes, Canto e uma psicóloga, Nell Salgado, não deixaram. No ano seguinte, ela já era campeã mundial e líder do ranking da Federação Internacional de Judô. Nos últimos três anos, subiu ao pódio em quase todos os torneios que disputou. A primeira medalha do judô na Rio-2016 não poderia vir de uma candidata melhor.
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