Supervisor se desculpa por polêmica e diz ter inventado caso de mala preta
Benecy Queiroz anuncia também que vai se afastar das funções no Cruzeiro para cuidar da saúde; dirigente é alvo de investigação do STJD e do Ministério Público
Em pronunciamento, sem direito a perguntas, na manhã desta quarta-feira, na Toca da Raposa II, Benecy Queiroz reuniu a imprensa para pedir desculpas pela entrevista que deu no início de semana. O supervisor de futebol do Cruzeiro disse ter inventado o caso de mala preta, quando admitiu ter comprado um juiz em um jogo do time celeste no passado. A declaração o colocou na mira da Procuradoria do STJD, que analisa o caso e estuda banir o dirigente do futebol. O promotor de Justiça Fernando Ferreira Abreu, do Ministério Público de Minas Gerais, também pretende instaurar procedimento para apurar o caso, que pode resultar em um inquérito civil público contra o profissional. Segundo a assessoria do MPMG, a primeira medida será solicitar informações para o clube.
Lendo declaração escrita em papel, Benecy afirmou que o episódio foi uma "brincadeira" e que por isso usou personagens de épocas diferentes. O supervisor comunicou também que irá "desacelerar" nas funções que tem no clube. No início da tarde, o Cruzeiro informou que Queiroz vai sair em licença médica. Ainda não foi definido se o presidente do clube, Gilvan de Pinho Tavares, irá se pronunciar sobre a saída temporária de Queiroz. Durante o pronunciamento desta manhã, Benecy explicou o contexto da gravação do programa.
- Na semana passada fui procurado pelo jornalista Orlando Augusto para falar sobre os meus 45 anos de serviços prestados ao Cruzeiro Esporte Clube. A gravação durou cerca de uma hora e meia. E em determinado momento, de descontração da entrevista, ele me perguntou se eu já tinha tentado compra algum jogo para o Cruzeiro. Eu iniciei a resposta dizendo que falasse muito em mala branca e que o que existe às vezes são gratificações que times menores no futebol aceitam para complementar o seu "bicho", mas que não considero como suborno. Se não os clubes grandes não precisariam pagar prêmios tão altos para ganhar. Essa foi a tônica da minha entrevista sobre a mala branca.
Depois, Benecy justificou a polêmica declaração sobre a compra do árbitro, ao afirmar que ele inventou a história da mala preta, embalado pelo clima da entrevista que concedeu à equipe de TV, na Toca da Raposa.
- Dentro do espírito descontraído de contar causos do futebol, criei a história, com duas personagens que, inclusive, trabalharam em períodos distintos no clube: o goleiro Vítor e o técnico Ênio Andrade. Na verdade, esse jogo nunca aconteceu. Tudo o que falei na entrevista foi um conto, imaginação do momento. Primeiro disse que o adversário tinha chutado bola do meio de campo e feito o gol, que entrei em campo para cobrar do juiz e, por último, que perdemos a partida. Eu estou no clube há mais de 45 anos e sei da seriedade da instituição, o Cruzeiro. Em todo esse período, eu jamais presenciei ou ouvi dizer que o Cruzeiro tenha sequer cogitado fazer parte de qualquer esquema, ou algo similar. Reconheço que a minha declaração foi infeliz e inoportuna, e nunca esperei que a minha declaração fosse ter tal repercussão. Estou aqui mais uma vez para reafirmar que tudo passou de uma entrevista descontraída.
O supervisor de futebol da Raposa encerrou o pronunciamento avisando que vai "desacelerar" as atividades dele no clube e pediu desculpas pela declaração.
- Queria neste momento pedir desculpa a vocês da imprensa, que sempre me trataram muito bem e com enorme respeito. Queria me desculpar também com essa fantástica torcida do Cruzeiro, que tem mostrado apoio incondicional ao clube. E por ultimo, pedir desculpas ao presidente Gilvan de Pinho Tavares, a toda diretoria do Cruzeiro, funcionários e conselheiros pelos transtornos provocados pela entrevista que concedi. Acrescento finalmente, de que aconselhado pelo meu médico particular, Luís Felipe, devo desacelerar um pouco minhas atividades para que eu possa voltar a estabelecer meu problema de pressão. Estou com a pressão acima do limite. Acho que esse tenha sido talvez o momento mais difícil da minha vida. Muito obrigado a todos vocês - disse o dirigente em pronunciamento, sem direito a perguntas dos jornalistas que estavam na Toca.
Em entrevista à Rede Minas, no início desta semana, o supervisor afirmou que ofereceu dinheiro a um árbitro, que iria apitar uma partida do Cruzeiro. Segundo ele, o juiz descumpriu o combinado, não favorecendo o time. Ele não citou o ano em que o fato ocorreu, apenas fez referências que o técnico Ênio Andrade e o goleiro Vítor estavam em campo. Os dois, porém, não trabalharam juntos no Cruzeiro. Ênio Andrade foi treinador do time, pela primeira vez, em 1989. Vitor fez a última partida pela equipe celeste em 1984.
Benecy Queiroz trabalha no Cruzeiro desde a década de 1970. Um dos funcionários mais antigos do clube, ele acumula no currículo várias funções dentro do time celeste. Chegou a treinar o Cruzeiro em algumas partidas. Atualmente, atua nas questões burocráticas envolvendo o departamento de futebol profissional do clube.
Essa não é a primeira vez que Benecy Queiroz chama a atenção por alguma declaração. No mês passado, o supervisor se antecipou e confirmou Deivid como novo treinador do time. A decisão, porém, demorou alguns dias para ser oficializada pela diretoria do Cruzeiro, causando mal-estar na cúpula do clube. Em outro episódio, Benecy deixou vazar a lista de inscritos para a Libertadores, sem o nome de Júlio Baptista, antes do anúncio formal. No início do ano passado, ele deu como certa a saída do lateral Egídio, que estava se transferindo para o Dnipro, da Ucrânia. O negócio, porém, ainda não estava concretizado e foi negado pelo presidente celeste. Pouco tempo depois, a transação se confirmou, e Egídio deixou o Cruzeiro.
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