Coluna

AROEIRA - TRAÇANDO A MÚSICA

Rio de Janeiro - Quando eu crescer, quero ser igual ao Aroeira.

Além de ser um sujeito bem humorado - e gente boa pra cacete - o cara é um dos maiores e mais criativos chargistas brasileiros. E mais, é saxofonista dos bons e gosta de gatos. 

Renato Luiz Campos Aroeira, nasceu em Belo Horizonte, no dia 18 de maio de 1954. Começou como ilustrador de livros didáticos infantis, aos 12 anos. Sua carreira profissional começou aos 16 anos, fazendo ilustrações para a coluna sobre esportes de seu pai no ‘Jornal de Minas’. 

Nascido em uma família de desenhistas e músicos, Aroeira começou a carreira artística tocando violão. Com a vinda para o Rio, em 1985, passou a tocar clarinete e saxofone em sua primeira banda, a 'Moving Heads’. Tocou, também, nas bandas ‘Tancredo Neves Jazz Band’, dos irmãos Paulo e Chico Caruso, nos ‘Optimistas’ e na banda performática ‘Conga, a Mulher Gorila’. 

Renato Aroeira / Divulgação - 

Hoje o artista apresenta-se com o músico Igor Eça em shows, bares e restaurantes no Rio e, regularmente, com seu grupo musical, o ‘Trio das Quartas’, criado em 2014 e formado por Aroeira (saxofone), Cláudia (violino) e Kiko Chavez (violão de sete cordas). 

A carreira de cartunista profissional iniciada em Minas, foi retomada a partir de 1986, no Rio de Janeiro, como ilustrador no jornal ‘O Globo’, onde ficou até 1989, quando retornou a Belo Horizonte e passou a produzir charges diárias na capa do ‘Diário da Tarde’. 

Nos anos 90, volta ao Rio e retoma a carreira de chargista em ‘O Globo’, na página de editoriais.  Passou pelo ‘Jornal do Brasil’ e desenhou por duas décadas no diário ‘O Dia’ e na revista ‘IstoÉ’, entre outros. Desde 2019 Aroeira publica suas charges no portal ‘Brasil 247’ e em suas redes sociais.

O cartunista foi ganhador dos prêmios ‘Vladimir Herzog’ (2020); ‘Prêmio Angelo Agostini’ de Mestre do Quadrinho Nacional (2021); ‘Prêmio Angelo Agostini’ de melhor chargista (2022) e do ‘Prêmio Imprensa de Pernambuco’ . Aroeira é casado com a violinista e radialista Cláudia Barcellos, ao lado de quem participa do grupo musical ‘Trio das Quartas’.

Quando nos conhecemos, no final dos anos 90, Aroeira trabalhava  no jornal ‘O Dia’ onde fazia charges políticas e eu rabiscava umas crônicas. Hoje, estamos juntos no Portal Brasil 247. Tempos atrás, publiquei uma charge sua no jornal ‘Cartoon’ e depois voltamos a nos esbarrar em alguns encontros de cartunistas, realizados na praia do Leme e mais recentemente no Bar Sat´s, em Botafogo, no Rio de Janeiro. 

Aroeira, no começo da carreira, em Minas Gerais, era conhecido pelo primeiro nome: Renato. Mas ele tentava achar um nome de cartunista. “Renato é nome de jogador de futebol, cantor ou de advogado, qualquer coisa, menos nome de cartunista” - dizia. 

Renato estava bolando um nome com os cartunistas e amigos mineiros Lor, Nilson, Afo e Dirceu. Então, Lor disse “Você se chama Aroeira. Já tem nome de cartunista”.

E ficou.

Na infância, Aroeira era fã de Asterix. Quando viu em uma revista francesa a série de quadrinhos ‘A Foice de Ouro’ com o personagem Asterix, ficou maluco! O desenho genial dos cartunistas René Goscinny e Albert Uderzo fascinou Aroeira.

“Até hoje, sou fã de Asterix. Sempre me identifiquei com o druída Panoramix e do bardo Chatotorix. Por razões óbvias, no caso do Panoramix, sou nerd, fiz física e matemática. E sou músico, como o Chatotorix” - diz ele.

Aroeira é fã de alguns cartunistas, entre eles Laerte,  Montanaro, Santiago, Vasques, Dahmer e Coimbra. Todos quadrinhistas. É fã de Marge, que fazia a Luluzinha e de Charles Schulz criador do Charlie Brown. “A Mafalda do Quino veio explodir a minha cabeça. Era mais que a psicanálise do Charlie Brown ou a coisa deliciosa que era a infância da Luluzinha. Na caricatura, os irmãos Caruso, (David) Levine, os franceses como (Jean) Mulatier e outros, fizeram também a minha cabeça, até que eu descobri Toulouse-Lautrec. Toulouse era um genial caricaturista”.

Ousado, em 15 de junho de 2020, Aroeira foi alvo de pedido de investigação protocolado na Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça. Tendo por base a Lei de Segurança Nacional, foi aberto um inquérito sobre uma postagem de Ricardo Noblat no Twitter, em que compartilhava uma charge de Aroeira sobre Bolsonaro. 

A charge, que trazia o título "Crime continuado", mostrava o presidente com um pincel e uma lata de tinta como se tivesse acabado de pintar uma suástica em cima de uma cruz vermelha (símbolo de serviços de saúde) enquanto falava "Bora invadir outro?", fazendo referência à fala do presidente que pedia para que as pessoas invadissem hospitais durante a pandemia de COVID-19.

Já no dia seguinte ao pedido de investigação, diversos chargistas, no Brasil e no exterior - inclusive eu - começaram a fazer suas próprias versões derivadas da charge original trazendo o título "Charge continuada" (em referência ao título "Crime continuado" da charge original) e com a utilização da hashtag #SomosTodosAroeira para divulgação nas redes sociais. 

Com isso, além de Aroeira, todos os 109 chargistas que inscreveram trabalhos relacionados ao movimento Charge Continuada no Vladimir Herzog foram laureados com este prêmio especial.

Nesta sexta-feira (19/05) Aroeira comemora seu aniversário de 69 anos no 'Mamut’, com muita música e muita charge.  


*O ‘Ginger Mamut’ fica na Rua Tonelero, 217, em Copacabana, no Rio de Janeiro.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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