Coluna

NO MEU TEMPO

Foto: Xavier Mouton Photographie on Unsplash - 

JUIZ DE FORA - Quem já não ouviu essa expressão, dita por pessoas mais velhas quando comparam os tempos atuais com o passado? Pois é, eu também as uso, ou passei a não usar, por uma questão crítica: que tempos são esses?

O nosso tempo é o tempo atual, e você e nem ninguém são donos de um tempo, porque um tempo, um espaço, uma vida vivida pertencem a um indivíduo, e se transforma em um bem inseparável.

Outros dizem, na minha época, como se, também, um determinado espaço no tempo histórico pertencesse a alguém em especial; sou o dono de um tempo, dono de uma época na vida humana. 

Claro, quando envelhecemos a vida não é mais a mesma. As coisas vão se transformando e quando chegamos ao futuro, ele, simplesmente, não bate com aquilo que imaginamos quando jovens. Muitos se imaginam no futuro dentro de uma carreira, sonho de criança, de menino, de estudante. E, no futuro, as coisas não funcionaram bem assim. Muitos que se imaginaram em uma determinada profissão vão acabar se aposentando, ou não, em outra, completamente, diferente, baseado nas dificuldades que cada um encontrou ao longo do caminho. Ninguém é dono do seu suposto tempo e nem também é dono de um espaço no futuro, porque ninguém consegue determinar o seu destino.

Sempre haverá pedras pelo caminho, e algumas são insuperáveis e nem sempre contornáveis.

Mas, no entanto, existe um grau de nostalgia dentro de cada um de nós quando lembramos do nosso passado. O jovem se julga eterno e acho, por uma opinião pessoal, que quando essa eternidade vai se extinguindo isso nos traz nostalgia e o desejo de voltar a viver no passado.

Pense. Se você tem saudades do seu tempo é porque você foi alguém que viveu uma infância e uma juventude feliz. Essa felicidade vem de um aspecto ligado à segurança. Agora, imagine alguém que passou o seu tempo lutando contra as dificuldades, não teve uma família para chamar de sua, ou se teve, essa família era desagregada e lhe trouxe problemas. Não acho que haja uma nostalgia para voltar ao seu tempo, principalmente porque você superou as dificuldades e construiu um futuro melhor.

Algumas vezes imagino que os mais velhos lançam essa expressão como uma forma de desabafo e crítica aos novos habitantes do planeta. Tem aí, penso, um pouco de inveja. 

Nos dias de pandemia, quando a nossa liberdade foi limitada, acredito que muitos sentiram uma nostalgia, e o pensamento voltou ao passado. A falta de liberdade nos traz a nostalgia de outros tempos. Mesmo aquele que viveu com tristeza o seu tempo, mas tinha alguma liberdade e ao perdê-la, por qualquer motivo, imagina o seu tempo passado melhor.

Em realidade, o tempo das utopias, sejam as utopias genéricas de um mundo melhor ou a utopia de poder construir e imaginar para si próprio um futuro melhor cause nostalgia e uma saudade de que naquele tempo tudo era melhor: eram tempos de sonhar.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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