Coluna

COMPORTAMENTO DE VELHO

O mundo tem dessas lorotas que vão se repetindo, ou melhor, as pessoas, porque o mundo não diz lorotas e, sinceramente, não deve se importar com aqueles que passam a vida caminhando por ele. O mundo roda, a essa altura do campeonato alguns dizendo que não como uma bola, redonda, mas sendo um disco, que no meu pensamento seria alguma coisa parecida como aquela brincadeira onde que o lançamos para os peludos pegarem. Fico imaginando até que, sendo verdade, estamos sendo caçados, neste momento, por algum canino espacial no meio dessa escuridão. E a lua, sempre a lua, nos acompanhando estupefata, com os outros astros rindo da nossa desgraça.

Por fim, as lorotas não são essas. Mas, a respeito de algumas opiniões formadas por gente que sabe quase tudo, de que alguns comportamentos são exigências de acordo com a idade.

MAQUINA DE ESCREVER
Foto: Florian Klauer sur Unsplash - 

Foi numa dessas que, passando dos sessentax me deparei com o espelho e com meu cabelo bem cortado, acima da orelha, e me lembrei que houve um tempo em que ele caía, soberano, sobre os ombros, e isso me deixava bem feliz.

O tempo passou, os cabelos encurtaram por exigências de “gente séria”, e me perguntei por que não deixá-los crescer, já que isso me fazia tão bem. Foi decidido que eles seriam deixados espalhar e, naturalmente, com esses tratamentos modernos, posso andar pela rua, sentindo-os balançar, saboreando o mesmo vento que, um dia, me fazia sentir liberdade.

Uma das máximas é que mulher depois de mais velha tem que cortar os cabelos. Fico me perguntando por quê? Isso veio de uma conversa em um consultório médico quando uma senhora disse que isso é o que deve ser feito, horrorizada, revoltada ou seja lá pelo que for, com os meus cabelos compridos e os da minha mulher.

Fico imaginando onde paramos nossa juventude daquele tempo do garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones, e parou de ver o mundo girar e se dedicou a estabelecer uma planura que nasceu de não se sabe onde?

Passamos a ser velhos ou deixamos de ser jovens?

É claro que a juventude passa, como tudo. Mas, por que não viver um pouco dela, deixar que ela sobreviva mais um tempo, nas roupas, nos comportamentos, e pararmos de nos transformar nos nossos pais, assumir uma cadeira que nunca nos fez bem ficar sentados?

O mundo está diferente, diria a senhora bem-comportada e antenada com as mudanças para o mundo idoso.

Acho que o mundo não está diferente, ele está sempre aí, nós é que vamos mudando não se sabe por que razão. Ao passar dos sessentax é hora de voltar ao início, começando pelos cabelos longos que, houve um tempo, foi um sinal de rebeldia. Bom começo, seria agora, para iniciar uma rebeldia mais divertida e com jeito de gente séria.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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