Em entrevista ao jornal Bafafá, Jaguar afirmou: “Não existe mais espaço na imprensa para o cartum. Os cartunistas estão desaparecendo”.
Concordo com o velho editor do ‘Pasquim’, e acrescento: o humor anda de mau humor e os cartunistas estão mesmo desaparecendo, literalmente.
Não só da imprensa; estão desaparecendo da vida.
Recentemente, além de perdermos Mariano, perdemos também o cartunista gaúcho Tacho e o goianiense, radicado em Brasília, Joanfi.
Na semana passada, escrevi aqui n´O Folha de Minas, sobre a perda de Mariano, hoje, escrevo sobre outro importante cartunista que se foi: Joanfi.
José Antônio Filho, o Joanfi - ou Joka Pavaroti, como também era conhecido - era goiano de Posses.
Radicado em Brasília, desde 1959, Joanfi era jornalista, cartunista, diagramador, ilustrador e membro da ala de compositores do bloco carnavalesco 'Pacotão'.
Tenor de reconhecido valor no Bar Beirute e em dezenas de botecos do baixo Conic, e da Asa Norte, Joanfi era capricorniano, vascaíno e como todo brasileiro, tinha a esperança como profissão e o humor como forma de encarar a vida.
Desde 1978, o cantor de marchinhas era responsável pelos desfiles do bloco “Pacotão”, que tinham como objetivo protestar de forma debochada contra figuras dos três poderes.
O tradicional bloco do “Pacotão” é marcado pelas marchinhas. Há mais de 40 anos a agremiação segue pelas ruas da capital tocando músicas autorais - muitas delas do próprio Joanfi -, que criticam o preconceito e as políticas nacional e internacional.
“Politicamente incorreto, chato em estado sóbrio, inconveniente, prepotente e filosófico sob alguns graus etílicos”, como ele mesmo se definia, era amigo dos cartunistas JAL e Edra. Com o cartunista mineiro ele dividia as noites de Brasília, no Bar do Beirute e no Conic, tocavam planos, porres e ideias. “Joanfi me abriu as portas para ingressar na profissão de cartunista, quando mudei para Brasília, em 1980”, diz Edra.
Das mesas do “Beirute”, saiu o jornal “Galhofa”. Joanfi fundou - em fevereiro de 1984 - o jornalzinho de humor com o slogan “O jornal que a Nova República merece”. Fustigou políticos e a Nova República que se instalava em Brasília e lançou os principais artistas do humor brasiliense: Racsow, Oscar, Duarte, Edra, Gougon, Kleber, Lane, Lopes, Lisarb, Siroba, Paiva, Piau, Zé Luiz, Benito Amaral, J.Pingo e Guido Heleno, foram alguns deles.
Em 1981, junto com o Edra, Joanfi lançou o livro “Galhofa”, contando um pouco da história do tablóide homônimo.
Na mesma época, promoveu em Brasília duas exposições de humor: “Diretas já” e “Fora Collor”, ambas nos jardins do Congresso Nacional.
O cartunista fez parte, junto com Nani e Son Salvador, do júri do I Salão de Humor de Caratinga, em 1998.
Joanfi que morreu, nesta sexta-feira (6/6), aos 70 anos - após uma cirurgia para a retirada de um câncer do intestino - será um dos homenageados deste ano do Salão de Humor de Caratinga (MG).
O cartunista, mesmo doente, não perdia o bom humor e deixou um texto como sugestão para seu epitáfio:
“Joanfi ou Joka, cabelos inexistentes, barriga proeminente, baixa estima visível. Cadê aquele garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones? Meu Deus! O que eu fiz comigo mesmo?"
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