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O ADEUS A DOMINGUINHOS DO ESTÁCIO

Dominguinhos morreu aos 79 anos, vítima de uma hemorragia cerebral (Foto: Divulgação)

Rio - O samba está de luto. Depois de perder, no último dia 27, Nelson Sargento, o samba perdeu ontem (30), Dominguinhos do Estácio.

Conheci Dominguinhos, em 1999, quando fiz - a convite da amiga Eulalia Figueiredo - uma entrevista com os “puxadores” Dominguinhos do Estácio, Preto Jóia, Serginho do Porto, Wantuir e o saudoso Jackson Martins, que lançavam o CD “Puxadores do Samba”, pela gravadora BMG.

Domingos da Costa Ferreira, mais conhecido como Dominguinhos do Estácio, nasceu no Morro de São Carlos, na localidade conhecida como Terreiro Grande.

O sobrenome, Estácio, veio do bairro onde Dominguinhos morou por muitos anos, na região central do Rio de Janeiro.

Iniciou a carreira no samba no final dos anos 60, como ritmista do bloco carnavalesco Bafo da Onça, logo depois integrou o grupo ‘Exporta Samba’.

A carreira como compositor e puxador de samba-enredo começou em 1975, na ala de compositores da Escola de Samba Unidos de São Carlos, que nos anos 80 passou a se chamar Estácio de Sá.

Em 1978, foi intérprete oficial da Acadêmicos de Santa Cruz.

Em 1979, foi convidado para ser a voz oficial da Imperatriz Leopoldinense, sendo dele e de Darcy do Nascimento o samba que levou a agremiação de Ramos ao seu primeiro título, no hoje denominado Grupo Especial, em 1980.

Dono de uma das vozes mais marcantes do carnaval carioca - ao lado de Neguinho da Beija-Flor e dos saudosos Jamelão (Mangueira) e Aroldo Melodia (União da Ilha do Governador -, Dominguinhos, além da Unidos de São Carlos, passou ainda pela Estácio de Sá, Grande Rio, Imperatriz Leopoldinense e Viradouros.

Fora do carnaval, Dominguinhos lançou nove discos. Em 1986, gravou pela Recarey , ‘Bom Ambiente’, seu primeiro disco solo, com músicas de vários compositores, entre eles, Arlindo Cruz, Dedé da Portela e Rixa. Neste LP, o compositor gravou seu primeiro samba, ‘Alô Belém do Pará', em parceria com Darcy Nascimento.

Por onde passou, colecionou sambas inesquecíveis e deixou uma legião de amigos e fãs apaixonados por seu registro vocal inconfundível.

Ao longo da carreira, o compositor e intérprete conquistou o título de campeão do Grupo Especial do Rio por cinco vezes:

Em 1980, com “O que é que a Bahia tem” (Imperatriz Leopoldinense); em 1981, com “O teu cabelo não nega” (Imperatriz Leopoldinense); em 1989, com "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós” (Imperatriz Leopoldinense); em 1992, com “Paulicèia desvairada - 70 anos do modernismo” (Estácio de Sá) e em 1997, com “Trevas! Luz! Explosão do universo” (Unidos do Viradouro).

No desfile de 2020, após a comemoração pela vitória da Viradouro, o intérprete sofreu um infarto ainda na Marquês de Sapucaí e foi encaminhado ao hospital Prontocor, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Foi submetido a um implante de dois stents no coração, para restabelecimento do fluxo sanguíneo na artéria coronária.

Na noite deste domingo (30), o compositor e intérprete morreu, aos 79 anos, vítima de uma hemorragia cerebral. Ele estava internado desde o dia 11 de maio, no Hospital Azevedo Lima, em Niterói, Região Metropolitana do Rio.

Dominguinhos emocionou milhões de corações. Sua voz inconfundível e seu carisma cativaram seus fãs, criando uma relação única e especial, que ficará para sempre na história do samba carioca.

Adeus, amigo.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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