Coluna

ASSESSOR

homens conversando
Crédito: Romain V / Unsplash

Assessor é uma palavra, em tempos de hoje, que carrega um certo fetiche, digamos, de perfeita divisão de responsabilidades… e valores. A confusão começa como algumas pessoas escrevem o nome. Essa quantidade de ss mais parece uma fala carioca do que, propriamente, uma palavra dicionarizada.

Dá para imaginar uma palavra com quatro ss?, pois é, bem colocadas, nos seus detalhes extremos podemos imaginá-la, também, como apropriadas ao uso dos cifrões. Dá para perceber a utilidade da coisa.

Alguns assessores, realmente, são importantes, porque, ao final das contas, todo chefe não pode pensar em tudo, e a culpa tem que recair em alguém. Ele imagina, o assessor corre atrás da informação, burila alguns comentários, anexa alguns recortes de jornais, e o chefe, então, pode posar de bom entendedor do assunto. Porém, dependendo do “acessor”, em alguns casos “ascensor”, a coisa pode ficar, no mínimo, rachada.

A simbiose entre um assessor e seu chefe imediato deve ser perfeita. É aquele papelzinho providencial que chega na hora certa do debate, ou a informação de cocheira (até hoje essa expressão me causa curiosidade, não pesquisei a sua origem, mas imagino que retirar uma informação de alguma cocheira, seria algo que não cheira bem), que vai tirar do sufoco e dar ares de vitorioso ao chefe que vai usufruir dos benefícios.

Em uma conversa pouco amistosa no whatsapp, alguém escreveu que eu não saberia ler um contrato, e que ele não era o meu “ascessor”. Fiquei imaginado o que um elevador estaria fazendo na conversa, considerando os altos e baixos na gramática do meu, vamos dizer, antagonista.

Em suma, assessor é uma palavra que se bem trabalhada dá frutos. Incluindo aí o trabalho que um assessor e, por que não, uma assessora, tendo em vista que a inteligência e presteza independa do sexo, basta a perspicácia e, algumas vezes, ser mais inteligente do que o assessorado.

Ser o assessor de uma grande liderança deve ser algo fascinante, viver ao lado dos pensamentos de alguém brilhante, trabalhar com ele, ver com ele as estratégias da escrita, das grandes decisões administrativas e políticas, adquire um tom de participante da história, embora anônimo. E servirá, no futuro, para grandes histórias a serem contadas a filhos e netos.

Por outro lado, um assessor que vive às turras tentando consertar as bobagens do assessorado deve trazer ares de loucura ao prestador do serviço.

O assessor, portanto, é a figura mais importante de um homem ou mulher públicos. Deve ser o sujeito que recebe as broncas por uma ação mal sucedida, embora não tenha sido o culpado ou culpada direto, mas, também, aquele que festeja, que celebra as grandes decisões tomadas, embora não tenha reconhecida a sua participação direta.

Talvez, assessorar alguém seja algo fascinante, algumas vezes pode ser algo distante, como uma fachada para encobrir falcatruas. Afinal, tem assessoria para tudo. Um assessor só não pode adivinhar o futuro. Pode estar no pódio ao lado de um grande vitorioso, ou então no banco de alguma delação premiada.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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