Coluna

O RITO DE KASSIO

Rio de Janeiro - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).

Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fabio Wajngarten.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.

Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

Não é segredo para ninguém que o presidente tem feito tudo o que pode para blindar e proteger seu governo e sua família das ações da Polícia Federal e da Operação Lava Jato.

A última tentativa é a indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Arte - Nani

Jair Bolsonaro ainda estava tomando umas tubaínas com os amigos Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Davi Alcolumbre, comemorando a indicação do desembargador, quando um assessor ligou.

- Presidente, a imprensa descobriu que o pós-doutorado em Direito Constitucional pela Universidade de Messina, na Itália e o postgrado em Contratación Pública pela Universidade de La Coruña e que ele também não é pós-doutor em Direitos Humanos pela Universidade de Salamanca, na Espanha.

O presidente quase engasgou com a tubaína:

- Isso é mentira da imprensa! Pa-ti-fa-ria, talkey!

- Não é não, presidente. Foi confirmado.

- Vamos culpar o Frederick Wassef. Foi ele que indicou o Kassio.

- Presidente, essa é a sexta indicação sua de gente que tem inconsistências no currículo. Desde o início do seu governo, vários ministros já tiveram inconsistências apontadas em seus currículos, e eles não hesitaram em florear suas experiências pregressas. Onde o senhor encontra essas pessoas, na Cracolândia? 

O colombiano, Ricardo Vélez Rodriguez, seu primeiro Ministro da Educação, que mal falava português, tinha 22 erros em seu currículo Lattes.

Abraham Weintraub também tinha inconsistências em seu currículo. 

Damares Alves, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, além de ver Jesus na goiabeira, também viu em seu currículo os títulos de “mestre em educação”, “em direito constitucional e direito da família”, que não tinha.

Ricardo Salles, o ministro do Meio Ambiente, não é mestre em direito público pela Universidade Yale.

Decotelli foi outro que, desde que foi anunciado pelo senhor como novo ministro da Educação, foram apontados plágios na defesa de mestrado, não conclusão de doutorado e inexistência de título de pós-doutorado.

- É só coincidência, talkey?

- Presidente, suspenda a indicação do desembargador!!

- Como? Por quê? Só por essa besteirinha?

- Tem mais: - continuou o assessor. - A imprensa descobriu também que ele copiou trechos de artigos publicados na internet em sua dissertação de mestrado. 

- Bom, no tocante a essa “cuestão”, já é diferente. Vou precisar de outro nome.  Vou ver com o Wassef se ele tem mais alguém escondido lá no sítio dele.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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