Coluna

Passarela Nelson Sargento

- Marineth, dias antes do início desta pandemia do COVID-19 que assola o planeta e deixa a população ameaçada de extinção, já tendo causado a morte de mais de 430 mil pessoas, dei o nome de Passarela Nelson Sargento ao longo corredor do aptº de uma amiga. Ela, recentemente, porém, optou por promover votação em rede social sobre a proposta. Surpreso, enviei mensagem por correio eletrônico. Disse-lhe que “o sgt., pelo muito que caminhou no corredor e pintou o aptº, como você contou, além da parceria musical e de lhe ofertar quadro de pintura, creio, dispensa competição; mas, entendo, você deve ter outros motivos, né?”.

- Athaliba, que novidade é essa agora? Do que se trata, afinal? Explique-se, por favor!

- Marineth, anos e anos após realizações significativas no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro - MIS/RJ -, parte da “patota” da direção daquela instituição que integrei voltou a se encontrar. Na pauta, projetos culturais como documentários, festivais, shows e peças teatrais, entre outros. Para alimentar as “ideias”, almoço no aptº da ex-presidente do MIS, Marília Trindade Barboza. Frontal à enseada de Botafogo e ao Iate Clube do Rio de Janeiro, na boca de acesso à bucólica Urca, onde se instalou a TV Tupi, em 1951, e onde mora o “rei” Roberto Carlos.

- Pô, Athaliba, de lá se deve ter uma vista panorâmica e fascinante da praia que liga à Baía de Guanabara, repleta de barcos e luxuosas lanchas de alguns ricaços, né?

- Sim, Marineth. A vista é deslumbrante. Inspira canções e poemas. Da larga janela, banho de sol a nudes e, à noite, tendo os céus estrelados por testemunha, amantes “sedentos de amor e desvarios” renovam votos de cumplicidade. A sedução te transporta ao infinito “nas asas da imaginação”.

Nelson Sargento no traço refinado de Marco Antonio Monteiro, o MAM

- Athaliba, por favor, aterrissa. Acorde. Ocê que se não empolgue tanto, tá? Não quero me sentir enciumada. Quero saber dos pormenores da sugestão da Passarela Nelson Sargento.

- Marineth, à mesa, além da anfitriã, o Adonis Karan, cineasta e realizador de consagrados festivais de músicas que revelaram renomados cantores e compositores; o Dermeval Neto, diretor de programas de TV, jornalista e documentarista de Paulo da Portela, seu nome não caiu no esquecimento, entre outros; e o Amauri, militante do movimento negro e integrante de uma das mais qualificadas instituições de ensino do país, o Colégio Pedro II.

- Não me venha dizer, Athaliba, que o cardápio foi à francesa.

- Que nada, Marineth. A comida feita pela mineira Maria Lúcia deixa qualquer um “morto de fome” ou de “água na boca” empanzinado, saciado, empanturrado. O rango é sempre delicioso. E, como sobremesa, arrematamos o tradicional “Romeu e Julieta”, ou seja, queijo e goiabada.

- Athaliba, mas onde se encaixa a tal Passarela Nelson Sargento?

- Marineth, no percurso da sala de estar à sala de refeições, cujo corredor se estende até o escritório da anfitriã, o Dermeval observou “como é tão grande”. Aí, de pronto, disse: nós estamos atravessando a Passarela Nelson Sargento. Todos, naquele momento, psicologicamente, ouviram a batida do ritmo tradicional do surdo da Estação Primeira de Mangueira, a escola de samba do compositor de “Agoniza, mas não morre”. Ele, aliás, completará 96 anos em 25 de julho.

- Bem legal, heim, Athaliba. E ocê faz ideia do que motivou a realização da consulta sobre o nome a quem se dedicará a homenagem ao imenso corredor do aptº da Marília?

- Marineth, embora se tratando do aptº ser espaço privado, a Marília declinou do princípio do “centralismo democrático”. Talvez, em função da derrubada de estátuas de falsos heróis nos EUA e na Inglaterra, que vem acontecendo no rastro das manifestações em repúdio à brutal e covarde morte de George Floyd, cometida por policiais, recentemente. O aptº também sempre é frequentado por vários cantores, intelectuais, produtores culturais, músicos, etc. em memoráveis saraus. Creio que ela, por essas razões, decidiu levar a consulta sobre que nome dedicar ao longo corredor à rede social.

- Athaliba, até quando vai à votação e como será a cerimônia de inauguração?

- Marineth, o processo de votação será concluído no final do mês e a solenidade com placa no corredor acontecerá ao sabor de feijoada. Não tem data definida, ainda, em consequência da pandemia do COVID-19. Até lá, a co-autora da biografia “Paulo da Portela – Traço de união entre duas culturas”, com Lygia Santos, a filha de Donga – ele (Ernesto Joaquim Maria dos Santos) divide a parceria de “Pelo telefone” com o jornalista Mauro de Almeida – segue apurando votos.

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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