“A santíssima trindade da caricatura brasileira é formada por quatro cartunistas: Nássara, o espantoso; Chico, o virtuoso; Loredano, o tortuoso e Mariano, o raivoso.” (Jaguar)
RIO DE JANEIRO - Outro dia, escrevi aqui n´O Folha de Minas (MG) e no “O Dia” (RJ), sobre a “Muda Brasil Tancredo Jazz Band”, uma banda composta só por cartunistas; formada por Chico, Paulo Caruso, Reinaldo, Luis Fernando Veríssimo, Aroeira e Cláudio Paiva. Esqueci do Mariano.
Ele me ligou: “Ediel, eu também tocava nessa banda!”, reclamou.
Tocava sim. Era o clarinetista.
Mariano é multitalentoso. Fez e faz tantas coisas que é impossível lembrar de todas elas.
Essa semana, fez mais uma coisa que nunca tinha feito: 70 anos.
Faz aniversário no mesmo mês em que “O Pasquim” fez 50 anos. A história do Mariano, por sinal, se confunde com a do semanário carioca. Estão juntos desde a criação.
Quando Mariano chegou ao “O Pasquim”, aos 20 anos, o jornaleco ainda engatinhava. Era um bebê. O cartunista ficou até o fim. Só não é mais antigo que o Jaguar, que ficou para apagar a luz.
Mas Mariano fechou a porta, depois que a luz apagou.
Mariano é natural do Espírito Santo (ES) e carioca por adoção. Chegou ao Rio no início dos anos 70.
Por incentivo de colegas da faculdade, em 1971 mandou seu primeiro desenho para “O Pasquim”. A publicação foi o início de sua promissora carreira de cartunista, chargista e ilustrador.
Publicou nos jornais “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “Última Hora”, “O Pasquim”, “Opinião”, “Movimento”, “O Nacional” “Terceiro Mundo”, “Cartoon”, “Jornal do País” e “Jornal da Ciência”.
Foi um dos pioneiros na criação de charges animadas para telejornais nas TVs "Manchete" (1998) e “Bandeirantes" (1990).
Único cartunista a vencer o Salão de Humor de Piracicaba nas três principais categorias: charge (1982), caricatura (1984) e cartum (1988) . Foi premiado em diversos outros salões de humor, no Brasil e no exterior.
Jaguar é enfático: “Quando eu ainda tinha saco para ser jurado de concurso de caricatura, dar o prêmio para o Mariano já estava virando rotina. Era só bater o olho no desenho dele e não tinha pra mais ninguém” .
Mais Mariano não é bom só no desenho, escreve também muito bem. Tem dois livros publicados: “Abre-te Sésamos”, de 1981 e “Até aí Morreu Neves”, de 1985.
Outra coisa: criou e mantém até hoje o site “Charge On Line”, no ar desde 1996 como a principal referência do humor gráfico na internet.
Além de cartunista e chargista, Mariano também manda bem na ilustração. Uma caricatura que fez para ilustrar uma matéria sobre o sucesso que o filme “Vai Trabalhar Vagabundo” vinha fazendo na França, rendeu elogios do ator Hugo Carvana que chegou a pedir ao Jaguar o original da caricatura do menino.
Além das charges que Mariano levava prontas para o jornal, sempre pegava uma ilustração para fazer. De preferência, às das crônicas do Aldir Blanc.
Até que um dia, o próprio Aldir pediu para que Mariano passasse a ilustrar todas as suas crônicas. A parceria durou vários anos e rendeu dois livros: “Rua dos Artistas e Arredores” e “Porta de Tinturaria”.
O jornal de Ipanema foi uma verdadeira escola para o garoto. Com Jaguar conheceu, através da New Yorker e dos livros de Siné, Sempé, Wolinski, Steinberg a história da caricatura no Mundo.
Com Fortuna aprendeu a só entregar a charge para o editor no último minuto: “Assim, não dá tempo para ele fazer nenhuma alteração no seu trabalho”, dizia o mestre.
Com Millôr aprendeu ética, integridade, civilidade e cordialidade.
Henfil e sua luta pela aprovação da Lei de Direitos autorais, lhe ensinaram a lutar por seus direitos.
Se apaixonou pela simplicidade, economia e minimalismo visionário do traço do Nássara.
Com Fausto Wolff e sua incorruptível ideologia, fez um curso completo de caráter.
Com Ziraldo aprendeu a ser generoso; com Redi, a modéstia e com os colegas do “baixo clero do traço” Nani, Agner, Calicut, Lapi, Guidacci, Duayer, Reinaldo e outros, a amizade e companheirismo.
Parabéns, amigo!
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