Rio - Roubei esse título de uma crônica do Jaguar.
No texto, Jaguar confessa que roubava livros dos hotéis em que se hospedava.
Sem nenhum pudor, ele entrega: "O primeiro que roubei foi "Pergunte ao Pó", de John Fante; num hotel em Búzios. Outro: "Memórias de um velho safado", de Bukowski; num hotel em Natal...".
Devo confessar, já tive essa mania, também.
Numa das muitas idas e vindas - foram dez anos - a Ilha Grande, por conta de uma Mostra de Humor Ecológico realizada, na Ilha do Abraão, pelo cartunista e amigo, Ferreth; me colocaram - o safado jura, até hoje, que não foi ele - numa pousada no fim do mundo.
No pico do Abraão. Perto do presídio onde cumpriu pena Madame Satã, na época da ditadura.
O lugar era tão longe que nem o carregador quis levar minha bagagem até lá. "Nem fudendo!" - disse ele.
Era longe. Tão longe que, no caminho, passamos por uma placa escrito: inferno - 7 Km.
A pousada era uma merda, mas a vista era maravilhosa!
No meio do quarto, tinha uma pedra enorme. Juro!
Quando construíram a pousada, devem ter esqueci ela lá.
Lembrei-me de um famoso poema de Carlos Drummond de Andrade - cujos versos repetiam:
"No meio do caminho tinha uma pedra" - publicado em 1928, na Revista de Antropofagia.
Em cima desta pedra, que funcionava como mesa, vários livros espalhados. Entre eles, "O Mundo de Sofia", de Jostein Gaarder.
O livro conta a história de Sofia uma menina de 15 anos que recebe cartas anônimas questionando sobre a existência e o entendimento da realidade.
A leitura despertou o meu interesse por filosofia. Por Sócrates, Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Descartes, Kant, Marx. Todos citados no livro.
Quando me despedi da Ilha, levei o livro.
Outra mania: roubava cinzeiros de motéis. Nunca fumei, mas na minha casa tinha mais de cem cinzeiros.
Bem, mais essa é outra história.
*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor
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