Rio - Sempre fui muito urbano, transitei por grandes cidades. Nasci no Rio de Janeiro, passei parte da infância em João Pessoa, na Paraíba, e boa parte da adolescência entre Minas Gerais e São Paulo.
Tudo fluía bem na minha vida, entre metrópoles urbanas e agitadas, até que, no carnaval de 1978, durante uma estada em Iguaba Grande, conheci o balneário de Armação dos Búzios.
Diferente das cidades que passei, Búzios logo me fascinou. Fiquei encantado com a Rua das Pedras, cheia de bares, restaurantes e lojas de grife; entupida de turistas argentinos, alemães, japoneses e - pasmem - mineiros. Uma garotada bonita e bronzeada.
Fascinado pelas sedutoras tentações do balneário, percorri toda cidade a pé. De bar em bar. Acredito que essa é a melhor maneira de conhecer Búzios: a pé, compartilhando de seus hábitos, ouvindo seus ruídos, sentindo seus cheiros, vendo de perto suas luzes e cores, convivendo com seus nativos e desfrutando dos diversos botecos existentes.
Fiquei apaixonado. Tempos depois, minha família comprou uma casa na Praia da Ferradura e eu sempre que podia, passava os finais de semanas no balneário.
Aos poucos, fui desvendando segredos apenas conhecidos pelos moradores locais: como os sanduíches de linguiça servidos – uma delícia – em postos de gasolina; a beleza e a vista magnífica da pousada Byblos; a comida deliciosa e o crepúsculo do Cigalon - restaurante que deve seu nome a uma personagem da literatura francesa, criação do escritor Marcel Pagnol - na Praia do Canto.
A programação do Cine Bardot - único da cidade - fundado em 1994, pelo argentino Mário José Paz, montada ao gosto da freguesia.
Fui apresentado à irreverência do "Perú Molhado - O Maior Jornal de Búzios". Um "Pasquim" local fundado e editado desde 1981 pelo jornalista argentino, Marcelo Lartigue, que exibia as criativas capas criadas pelos meus amigos cartunistas, Ykenga e Jaguar.
Eu era fã do jornaleco. Sonhava fazer uma das memoráveis capas, mas Marcelo morreu antes, depois de um transplante de fígado, e o "Peru Molhado" morreu com ele.
Convivi com a beleza fria de Woody Allen, no Cine Bardot; com o charme de Brigitte Bardot, sentada na Orla Bardot; e Juscelino Kubitschek - ex-presidente do Brasil que, segundo relatos históricos, frequentava a casa "Solar do Peixe Vivo", na década de 1950 – também na orla Bardot.
Deliciei-me com as histórias de Brigitte Bardot - atriz e símbolo sexual dos anos 50 - que imortalizou, nos anos 60, Armação dos Búzios. Até então, uma pacata e desconhecida vila de pescadores.
Comovi-me com a tragédia de Ângela Diniz, uma socialite brasileira assassinada em dezembro de 1976, em uma casa da Praia dos Ossos, pelo companheiro Doca Street.
Conheci pessoas talentosas e generosa como Thomas Werber, alemão radicado em Búzios, presidente do Búzios Convention Bureau e da Turisrio, que me hospedou na cidade e o jornalista Gustavo Henrique, com quem entrevistei o cartunista Mayrink, na praia dos Ossos e com quem tomei porres homéricos nos botecos da orla. Alegre e brincalhão, Gustavinho - como era carinhosamente conhecido na cidade - era cheio de idéias, entre elas, uma louca: publicar alí o "Hic!", um jornalzinho de humor criado por mim.
Mas o destino não quis. Gustavinho faleceu poucos meses depois. Búzios perdia uma de suas figuras mais simpáticas e nós, um grande amigo.
Viva, Gustavo! Viva, Búzios!
*Ediel é jornalista e cartunista
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