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Silvye Alves mente sobre voto na PEC da Blindagem e amplia crise de confiança com eleitores

Deputada disse ter votado contra no primeiro turno, mas registros oficiais revelam apoio à proposta nas duas votações; discurso de “pressão partidária” gera dúvidas sobre sua sinceridade

silvye alves
Reprodução/Instagram. 

Belo Horizonte - A aprovação da PEC da Blindagem — apelidada pela sociedade civil de PEC da Impunidade — provocou forte rejeição popular e levou deputados a recorrer às redes sociais para pedir desculpas aos eleitores. Entre os vários discursos de arrependimento, o da deputada Silvye Alves (União-GO) se tornou um dos mais polêmicos, não apenas pelo tom emotivo, mas pela inconsistência entre suas palavras e os registros oficiais da Câmara dos Deputados.

Em vídeo publicado nas redes sociais, Silvye pediu perdão, disse estar “decepcionada consigo mesma” e afirmou que havia votado contra no primeiro turno, mas que teria cedido a pressões no segundo.

“E eu quero contar pra vocês como aconteceu. Essa votação começou por volta das 19h e pouca da noite imediatamente, eu tava inclusive sentada com o pessoal do partido Novo, que foi contra, eu já sabia que a direita, que a extrema-direita, que a direita, que o centro votariam a favor dessa PEC, mas eu segui ali o meu sentimento, a minha intuição, e votei contra. 19h da noite eu tinha votado contra. E a partir desse momento, eu comecei a receber muitas ligações de pessoas influentes do Congresso Nacional, se é que vocês me entendem. Ligaram dizendo que a votação contra, que eu sofreria retaliações, enfim, eu não sei que tipo de retaliação um deputado federal sofre, poderia sofrer dentro da Câmara dos Deputados, e eu fui covarde. Eu fui covarde, eu cedi a pressão, por volta de quase 23h da noite eu mudei meu voto. Eu não fui forte, sabe, eu sou uma mulher super forte e eu não tive naquele momento força pra fazer o correto”, declarou.

A fala, porém, não corresponde à realidade: conforme apuração d’O Folha de Minas, os registros oficiais mostram que Silvye Alves votou favoravelmente nos dois turnos da PEC.

A fraqueza da parlamentar talvez não esteja no voto na PEC da Impunidade, mas em não ter coragem para assumir perante seu eleitorado o voto favorável nos dois turnos.


Mentira mais grave que o voto

O episódio expõe a deputada a um desgaste ainda maior junto ao eleitorado. A mentira sobre o voto pode ser mais prejudicial que o próprio apoio à PEC. Isso porque os eleitores já demonstram insatisfação com a aprovação da medida, considerada um retrocesso no combate à corrupção, mas a tentativa de encobrir o voto favorável, apresentando-se como vítima de pressões, aprofunda o sentimento de traição.

O caso gera a percepção de dupla quebra de confiança: primeiro, pelo apoio a um projeto visto como “blindagem” de políticos; e segundo, pela tentativa de manipular os eleitores com uma versão facilmente desmentida por documentos públicos.

Fac-símile / Câmara dos Deputados. 

Transparência em xeque

Silvye construiu sua carreira como apresentadora de televisão, sustentando um discurso firme contra o crime e em defesa da transparência. A contradição entre sua fala e o registro oficial do plenário coloca em dúvida sua coerência e mina sua credibilidade.

Em vez de apenas se desculpar com seus eleitores e reconhecer o voto favorável, a deputada tentou se eximir da responsabilidade, atribuindo sua decisão a pressões de lideranças do Congresso. Porém, ao não citar nomes, e ao negar um voto que efetivamente deu, Silvye abre espaço para questionamentos sobre sua sinceridade no pedido de desculpas.

Fac-símile / Câmara dos Deputados. 

 

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