Coluna

E SE NÃO HOUVESSE O AMOR?

Timo Stern / Unsplash - 

Juiz de Fora (MG) - Poderíamos imaginar a vida sem amor? Suponhamos que esse sentimento não existisse e não ocorresse a ninguém elaborá-lo. Homens e mulheres ou a relação entre humanos se dariam por leis, baseados em uma ética? Em nossas sociedades, organizadas de que maneira forem, têm regras de condutas. Todas elas se baseiam em um sentimento de solidariedade, visando proteger os fracos dos mais fortes, os pobres dos mais ricos e das minorias pelas maiorias.

Claro, que a realidade é um pouco diferente, mas, pelo menos, elas têm boas intenções.

Mas, e o amor? Esse sentimento que nos leva a desejar o outro para ser a razão das nossas vidas e paixões, a relação com os filhos ou mesmo as relações com os próximos. Pessoas ajudariam outras pessoas por uma simples razão de dever. Pragmaticamente. De uma maneira politicamente correta. Formal. 

Não haveria o amor, aquela vontade que temos dentro de nós para entender ou procurar entender o outro e não, simplesmente, levá-lo a algum lugar, tratá-lo e depois disso que se cuidasse. Seria um tipo de liberalismo sentimental. Goste de quem quiser e faça o que bem entender. Nisso incluindo aqueles que apenas acham que, eliminar o perdedor, elimina o problema.

Como seriam os romances e a literatura? Talvez o amor lá fosse a utopia, aquela ideia que nunca se consuma. Mas estaria na imaginação. Porque o ser humano precisa de uma válvula de escape para si. Imaginar o amor seria uma delas, assim como a religião é a válvula de escape para o mundo espiritual. Está lá, imaginamos, mas nunca ninguém o provou.

Por que ele existe então, esse amor?

O amor é como uma liga que nos mantém na terra, sem partir para o barbarismo. É a barreira que interrompe a escalada do mal. Até os brutos amam. Se não ao outro, a si mesmo.

Não teríamos o amor-próprio? Como seria a relação conosco? Não teríamos a autoestima? Esse prazer de amar a si mesmo a ponto de abrir mão de coisas para atingir um objetivo! Nos apaixonaríamos apenas para uma satisfação carnal e nada além disso? Essa atração entre humanos seria apenas uma reação biológica, uma forma de garantir a ascendência?

Mas se temos o amor, o que fazemos com ele?

O amor é a barreira de si para si mesmo. Ele nos para ante uma atrocidade e nos faz chorar. Para aqueles que continuam a barbárie o amor não existe. É apenas uma palavra no dicionário ou uma maneira de enganar o outro.

Se nos emocionamos é porque sentimos alguma coisa dentro de nós que nos faz pensar. O amor, na realidade, não é a propaganda. O amor é a segurança que queremos sentir e dar ao outro. É o que nos mantém vivos no planeta. Se ele não existisse, nós não existiríamos para falar sobre ele. 
 

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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