Coluna

COMO UTILIZAMOS NOSSO TEMPO

Juiz de Fora -  Utilizamos nosso tempo de três maneiras: fazendo nada, por nada ou sem utilidade.

Existem aqueles que são chamados de preguiçosos. Como algumas pessoas veem as outras culturas com um olhar crítico baseado na sua própria cultura. É comum ver um indígena em qualquer outro país, uma sociedade vivendo sua existência baseada nos seus próprios conceitos sociais sofrendo as críticas de outros. São tidos como preguiçosos, praticantes de um estilo de vida que não combina com nossa modernidade e suposta supremacia. E nas suas concepções fazendo nada.

Outros lutam na vida para atingir propósitos, completamente alheios às suas vontades. Lidam com a vida sem um objetivo específico, mas tentam um lugar ao sol dentro da concorrência, visando uma vida financeira mais agradável e mais afeita aos ditames do consumo. É comum a frustração diante da adversidade, como se o sujeito estivesse remando um barco que não lhe diz respeito, em um lugar onde não deveria estar e seguindo uma horda de outros sujeitos procurando seus propósitos ou não, tentando complementar suas ambições com seus desejos ou não. Seria uma vida por nada. Tendo em vista que seu objetivo não coaduna com seus desejos reais.

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Foto: Andrik Langfield na Unsplash - ​​​​

O terceiro caso seria uma repetição do segundo, quando estão desconectados com suas aptidões, transformando-se em futuros fracassados, amargando em suas vidas o completo desânimo. Muitas vezes cercados de dinheiro e bens e não vendo nenhum sentido naquilo.

Singramos o barco da vida de acordo com a corrente. Correntes que nos atraem porque atraem multidões. E seguir uma horda sem sentido para nós e carregar uma cruz que ficará mais pesada com o tempo.

Em nossa vida atual é comum perseguir um objetivo para ter uma idade adulta melhor, com melhores condições de vida. Para alguns, existe um objetivo futuro, que seria poder, finalmente, satisfazer os desejos sem sentir a necessidade de lutar mais pela sobrevivência. Essa é a história da nossa sociedade: lutamos para viver nossa plenitude quando estamos no ocaso da vida.

Nosso modelo nos leva a isso. Nada é mais frustrante que chegar à velhice e o único bem que temos é a idade, ter provado que se viveu e achar que tem lições para dar. Na verdade, isso soa, para os mais jovens, como um arremedo de vida. É claro que as lembranças, no final das contas, são os únicos bens que nos restam. Mas é desumano e irracional comparar tempos distintos. 

Para aqueles que não fizeram nada para tornar suas vidas melhores, não se podem considerar mestres de ninguém. Os que lutaram na vida sem perseguir os seus propósitos pessoais, mas outros, alheios a si, tampouco podem ser mestres.

Nossas histórias não são repetíveis, nossas histórias podem ser parâmetros. Existem aqueles que fazem um balanço de suas vidas e analisando os prós e contras de viver consideram que as dificuldades fizeram parte do seu viver, que não amaldiçoaram suas vidas por causa de seus erros, podem dizer que utilizaram as coisas porque as tinham como únicas armas e aprenderam a lutar com elas. Abandonaram as desnecessárias e utilizaram as corretas, na medida do possível. Manter o entusiasmo da juventude é a arma mais importante para encarar o futuro.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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