Rio - Falar das grandes revistas brasileiras requer o espaço de um jornal inteiro.
Imagine falar da ‘Isto É’, ‘Veja’, ‘Status’, ‘Placar’, ‘Época’, e das seminais ‘Senhor’, ‘Cruzeiro’ e ‘Manchete’! Cada uma com seu segmento, seu estilo, seus leitores e suas histórias.
Mas eu escolhi apenas um nome para representar todas as revistas nesta coluna dedicada às revistas. Falo da ‘Diners’, um raro consenso nesse universo de grandes publicações.
Até a década de 50, o Brasil vivia na pré-história da ousadia gráfica e editorial.
Não havia por aqui, sequer uma revista nos moldes da americana ‘Esquire’ ou da francesa ‘Paris Match’, por exemplo.
Até que, no final da década de 50, o jornalista Nahum Sirotsky criou a ‘Senhor’. Para montar a revista, Sirotsky atraiu nomes de porte, como Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Caio Mourão, Bea Feitler e lançou talentos como Paulo Francis, Jaguar, Glauco Rodrigues e Carlos Scliar.
A Revista teve vida curta. Durou apenas cinco anos, de 1959 a 1964. Mas foi o embrião de outra grande publicação: a ‘Diners’.
Em 1967, com o fim da ‘Senhor’, Paulo Francis passou a editar a ‘Diners’. A revista já existia desde 1962, como uma publicação mensal dirigida como brinde aos associados do cartão Diners Club.
Francis transformou a ‘Diners’ em uma revista ‘esnobe, elegante e inteligente’, como queria Beki Klabin, sócia dos cartões Diners e dona da revista.
A ‘Diners’ do Francis era uma publicação, ainda desconhecida do grande público, mas muito admirada no meio e o sonho de inúmeros jornalistas cariocas, que adorariam colaborar nela.
Não era apenas a revista intelectualmente mais sofisticada da imprensa brasileira. A herdeira direta da respeitada ‘Senhor’. Era também a que pagava melhor.
Com plenos poderes e total independência, Francis começou por uma reforma gráfica e pela contratação de gente sua para trabalhar com ele na redação da ‘Diners’, na rua do Ouvidor, 61.
Logo que assumiu a revista, em julho de 1967, Francis montou uma redação só com gente talentosa. Um dos primeiros a ser chamado para colaborar com a nova revista foi Ruy Castro -então, um jovem de apenas 19 anos - seu colega no jornal ‘Correio da Manhã’.
A ‘Diners’ já contava com dois dos maiores talentos daquela geração, Flávio Macedo Soares, 24 anos, e Alfredo Grieco, 23, ambos alunos do Instituto Rio Branco e candidatos ao Itamaraty.
Ruy Castro escreveu em uma gostosa crônica sobre Paulo Francis e a ‘Diners’: “Flavio, Alfredo e eu, cada qual dominando diversos assuntos, éramos responsáveis por quase 70% do texto da revista: artigos ‘sérios’, crônicas de humor, perfis, entrevistas, adaptações de material estrangeiro, traduções etc.
O material estrangeiro, quase sempre de ficção, também era do primeiro time: contos de Julio Cortázar, Philip Roth, Dorothy Parker, Ernest Hemingway, Graham Greene, D. H. Lawrence, os perfis de Kenneth Tynan e Rex Reed e os quadrinhos mais sofisticados da imprensa: Peanuts, Pogo, B.C., o Mago de Id, Barbarella e os cartuns de Jules Feiffer…
Vários outros jovens, como Telmo Martino, Edgard Telles Ribeiro, Jomico Azulay, Maria Ignez Duque Estrada, Alfredo Lobo e Jaime Rodrigues, também colaboravam. Pedro Oswaldo Cruz era o fotógrafo de plantão e o excelente caricaturista Vilmar fazia quase todas as ilustrações.
Os restantes 30% do texto da revista eram reservados aos grandes nomes: Carlos Drummond de Andrade, Antonio Callado, Paulo Mendes Campos, Glauber Rocha, Millôr Fernandes, Franklin de Oliveira, Armando Nogueira, Octavio Malta, Fausto Cunha, Otto Maria Carpeaux, Luiz Lobo, Flavio Rangel, José Lino Grünewald, Joel Silveira, os cartunistas Jaguar e Fortuna, o lingüista Adriano da Gama Kury e outros, todos muito bem pagos”.
A ‘Diners’ virou uma espécie de xodó da imprensa carioca. No segundo semestre, o sucesso da revista entre os jornalistas era tanto que, numa decisão editorial ousada, ‘Diners’ passou a ser vendida nas bancas a partir de setembro.
Mas antes que a revista se firmasse nas bancas, aconteceu o AI-5 - Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro daquele ano. Na manhã de 14 de dezembro de 1968, começaram as prisões. Francis foi preso horas depois, em seu apartamento, na rua Barão da Torre, só de pijama.
A crise política e institucional no país e a ameaça de instabilidade econômica tornaram insustentável a existência da revista nas bancas. Desiludida, Beki Klabin resolveu encerrar a circulação da publicação.
Em junho de 1969 saiu a última ‘Diners’.
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