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O BRACARENSE E OS NOVOS TEMPOS

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Arquivo pessoal do autor

Rio de Janeiro - No último sábado, depois de muito tempo, voltei ao Bracarense.

Da última vez que estive lá, Chico ainda era o garçom preferido da turma e Alaíde pilotava o fogão.

O “Braca” - que é como os habitués costumam chamar o boteco -, é um dos mais famosos botequim do Rio de Janeiro. Seu chope é um dos melhores da cidade e o bolinho de aipim, recheado de camarão com catupiry é o petisco mais famoso da casa.

O boteco era um dos preferidos do saudoso cartunista, Otélo Caçador, que tinha uma página de humor no jornal “O Globo”.

Otélo, antigo morador do Leblon, de onde dificilmente saía - tinha medo de atravessar túneis - era um boêmio de carteirinha. 

O cartunista tinha seus bares preferidos no bairro. Dos três bares preferidos do desenhista, um deles era o Bracarense, os outros eram Clipper e o bar Senegal.

Jaguar era outro frequentador contumaz do Braca. O criador do “Pasquim” frequentava   o bar com o escritor João Ubaldo Ribeiro e o músico Tom Jobim, que chegava a levar a dobradinha da Alaíde, para comer no Bar do Tom.

Jaguar conta, em seu livro “Confesso que Bebi - Memórias de Amnésico  Alcoólico", que passou um tempão sem aparecer por lá porque o saudoso “seu” Armando, o português sócio do bar, não cobrava suas despesas. Nem a do João Ubaldo Ribeiro.

O escritor baiano parou de frequentar o botequim quando parou de beber.

Em frente ao Bracarense, tem uma banca de jornal.

Fui lá:

- Bom dia! Você tem a Folha de São Paulo?

- Não. Nós não temos jornais.

- Sério? Tem alguma outra banca por perto que venda jornal?

- Olha, é difícil!

- Difícil? É difícil encontrar jornais em bancas de jornais?

- Pois é. Tem uma do outro lado da rua. Tenta lá.

A conversa surreal com o dono da banca me fez lembrar de uma entrevista que fizemos, eu, Jaguar (O Pasquim), Ykenga (O Povo), Ferreth (O Dia) e Leonardo (Extra), com Otélo Caçador, no bar Degrau, ali mesmo, no Leblon.

Comentando sobre as idiossincrasias do bairro que era sua paixão, Otélo disse:

- O Leblon é um bairro engraçado. Tem a Luvaria Gomes, que não vende luvas, vende pratos; tem o Café e Bar Bilhares, que nunca teve bilhar; tem o Bar Raquete, um pé-sujo onde nunca entrou um tenista...

- E tem o Bar Memória, que ninguém se lembra dele - lembrou Jaguar.

Grande contador de histórias, se vivo fosse, Otélo, com certeza, juntaria a história da banca de jornal que não vende jornal as muitas histórias engraçadas que contava sobre o Leblon.

Novos tempos. Velhas histórias.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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