Brasil

Adeus a Tia Maria do Jongo

Tia Maria do Jongo será uma das principais homenageadas
pela escola Império Serrano no carnaval 2020 (Foto: Reprodução/Instagram)

Sob aplausos de familiares e admiradores, o corpo de Maria de Lourdes Mendes, a Tia Maria do Jongo, de 98 anos, baixou à sepultura na tarde de domingo, 19/5, no cemitério de Irajá, no Rio de Janeiro. Ela faleceu no dia anterior, depois de sentir-se mal tocando tambor na Casa do Jongo da Serrinha, em Madureira, durante aula que ministrava. Naquele momento, quando se observou que não passava bem, a expoente da dança africana trazida à cidade no século XX por escravos bantos, disse “ah, estou meio barro, meio tijolo”.

Tia Maria do Jongo afirmara que “nasci com o jongo e vou com ele até o final; só paro de dançar quando Deus quiser”. Única fundadora viva da escola de samba Império Serrano, ela foi outorgada, recentemente, dia 14/5, com o Prêmio Sim à Igualdade Racial 2019, do Instituto Identidades do Brasil, na categoria Arte em Movimento, em solenidade realizada no Copacabana Palace, em Copacabana. Com largo sorriso no rosto, sua marca tradicional, ela agradeceu e fez convite a todos.

- Vai ser um grande prazer se um dia vocês puderem passar uma tarde com a gente. O jongo é bom; vocês vão gostar.

No carnaval de 2020, Tia Maria do Jongo será uma das principais homenageadas do enredo “Lugar de mulher é onde ela quiser” que a Império Serrano apresentará no sambódromo buscando se reabilitar do fracasso do desfile passado, quando foi rebaixada ao ficar em último lugar na classificação geral.

Maria de Lourdes era filha e neta de escravos que vieram de Minas Gerais para o Morro da Serrinha, aonde nasceu em 1920. Depois da morte de Mestre Darcy, que faleceu em 1986, ela assumiu a liderança da Casa do Jongo da Serrinha, desempenhando excelente trabalho pela preservação do jongo.

Quando falava da idade, Tia Maria do Jongo dizia:

- Tenho 98 anos e mamei até os oito anos. Minha mãe lava roupa num dos poços na rua que atualmente se chama Mano Décio. As mulheres iam todas lá lavar roupas. Eu ia lá, mamava, mamava e subia carregando água na minha latinha. A prima da minha mãe cantava: “Maria sobre o morro, bunda dela tremeu”. Eu não gostava, jogava minha latinha no chão e tinha que voltar para encher de novo. Tinha que voltar no poço e acabava mamando de novo. Esse é o segredo da longevidade.

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