Opinião

O colombiano Vélez deu com "os burros n'água"

Ricardo Vélez Rodriguez, colombiano de Bogotá, naturalizado brasileiro, que foi indicado a Jair Bolsonaro por Olavo de Carvalho para ocupar o cargo de ministro da Educação, “deu com os burros n’água”. Diante de tantas trapalhadas, o próprio ‘padrinho’ chegou a dizer que o tinha cumprimentado duas vezes: “uma quando assumiu a função e outra para mandá-lo enfiar o ministério no cu”. Recorro, estimados leitores d’O Folha de Minas, à frase de Olavo de Carvalho, o guru ideólogo de Bolsonaro, para buscarmos compreender por que em tão breve espaço de tempo Vélez foi jogado na vala comum do inexpressivo governo. Qual é opinião de vocês?

Bem, Veléz vem mostrando o quanto é inoperante, cansou de meter os pés pelas mãos no cargo. A babaquice recente do ministro da Educação foi de que os livros didáticos de história usados nas escolas devem ser revisados no sentido de tratar o golpe de 1964, que instaurou a ditadura militar no país, como um movimento da sociedade, conforme declaração ao jornal Valor Econômico. Com a maior cara-de-pau, tentando falsear fatos reais da história brasileira - ele não tem fidelidade com o Brasil -, afirmou que “não houve golpe em 31 de março de 1964, nem o regime que o sucedeu foi ditadura”.

Fanfarrão, como ministro da Educação, o comlombiano Vélez destilou veneno contra o Brasil. (Arte do site Brasil 247)

Trata-se de leviana e descabida intromissão de estrangeiro naturalizado (com todo respeito a cidadão de qualquer parte do mundo, pois sou internacionalista) que não conhece a realidade do Brasil. Reações à infâmia de Vélez surgiram de vários segmentos da sociedade. Pela Abrale, Cândido Grangeiro, presidente da Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos, disse que “todos e qualquer livro didático deve, por regra, ser baseado em ampla consulta acadêmica, e não por opiniões. Pois o que deve sempre nos guiar é o rigor acadêmico na produção dos materiais didáticos, para que os alunos tenham acesso a conteúdo pautado em pesquisa. A Abrale é contra qualquer tipo de revisionismo que seja baseado em opiniões”.

Recolhi alguns comentários de leitores postados ao pé das matérias sobre o assunto para mostra o tamanho da indignação manifestada contra Ricardo Vélez Rodriguez.

“Quem tiver preocupação com a educação dos seus filhos cuidem de ir fazendo dowload dos documentos do acervo nacional, enquanto estão disponíveis. Pois vejo que, agora, sim, haverá verdadeiramente uma doutrinação ideológica do pior tipo, daquele que não usa registros válidos para sua comprovação”. E outro comentário afirma que “enquanto o ministro delira, ENEM está em risco. Fantoche é olavete comandado pelo astrólogo que mora nos Estados Unidos. E falavam mal do Chico Buarque. Bolsominons, PSL e DEM além de dar a Previdência aos banqueiros querem reescrever a história. Vão colocar o Bozo como herói do golpe de 64”.

Num outro comentário, “só no Brasil comandado por um monte de bandidos e ignorantes metidos a patriotas que poderia se entregar a Educação a um estrangeiro que nem ao menos sabe falar português. Que patriotismo é esse? Nas fileiras da direita relinchante não tinha nenhum brasileiro capaz pro papel? Tiveram que importar um gringo pra vir reescrever a história do Brasil? Roubanaro comanda o governo mais trágico da história do Brasil”.

Ricardo Vélez foi advertido pelo Ministério Público Federal para se abstiver de praticar atos que violem a laicidade do Estado e a liberdade religiosa dos estudantes, em resposta à carta que o ministro enviou, em fevereiro, a escolas na qual pedia que diretores lessem aos alunos mensagem com sloganda campanha de Bolsonaro com referência a Deus. Os educadores foram orientados a filmar alunos cantando o Hino Nacional e, depois, enviar as imagens ao governo. A “genial” mensagem institucional de Vélez foi enviada para quase 25 mil escolas, na ocasião.

Olavo de Carvalho, guru ideólogo de Bolsonaro, que reside nos EUA, postou em rede social que não lamentará a demissão de Ricardo Vélez. Disse que o conheceu através dos livros que publicou, há mais de 20 anos. E, agora, vomita que “nunca tomei conhecimento das suas obscenas tucanadas e clitonadas, que teriam me prevenido contra o seu comportamento traiçoeiro. Não vou fazer nada contra ele, mas garanto que não vou lamentar se o botarem para fora do ministério”.

Bem, estimado leitores d’O Folha de Minas, não percam de vista o ineficiente governo Bolsonaro (até porque é impossível, né?), pois ainda seremos brindados por inesquecíveis trapalhadas, infelizmente, numa conjuntura trágica, com milhões de brasileiros analfabetos, milhões de brasileiros desempregados, milhões de brasileiros sobrevivendo abaixo da linha da pobreza, etc. e etc. e tal.

Ah! Não esqueçam nunca a absurda declaração de Vélez à Veja afirmando que o brasileiro viajando é um canibal; rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo”.

Vélez abandonou a Colômbia e aportou no Brasil em 1979 e se naturalizou em 1997. Esperamos que faça o caminho de volta, acometido de profunda e perpetua amnésia.

 

LENIN NOVAES* é jornalista e produtor cultural. Co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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