Capa do livro "Hiroshima, Meu Humor"
	Rio - Estou terminando meu livro e vou convidar para escrever o prefácio um cara que eu admiro muito. Um cara que, na minha opinião, é o melhor cartunista do Brasil.
	Espero que ele me dê a honra de participar do meu livro.
	Escrevendo isso, lembrei de uma história que o Henfil contou sobre a saga que enfrentou para conseguir um prefácio para seu livro "Hiroshima, Meu Humor".
	Espero que meu sofrimento seja menor.
	Henfil: "Eu me arrependo de não ter ido na casa do Millôr dar uma esculhambação nele, quando vim pro Rio, em 1965, pedir pra ele fazer o prefácio do meu livro.
	Vou contar essa história: Eu fiz um livro e então pensei assim: Pô, o cara que eu mais admiro, o cara que acho mais sensacional de todos, muito mais íntegro do que o Paulo Garcez, é o Millôr Fernandes. Vou pedir a ele pra fazer o prefácio.
	Nego fez subscrição pública lá em Belo Horizonte pra me arrumar dinheiro pra passagem. 
	Fui pra porta da Igreja São José: "Ajude Henfil a ir para o Rio de Janeiro pegar o prefácio do Millôr." Então, arrumei a passagem.
	Amigos foram me levar na Estação Central, uma farra!
	Cheguei no Rio, fui na casa do Ziraldo. O Ziraldo falou assim: "Deixa que eu vou lá." O Millôr falou com o Ziraldo que não dava pé. "O ser humano é inviável, Ziraldo". Deu uma esculhambação no Ziraldo por ter feito aquilo. O Ziraldo me falou.
	Eu ia ficar três dias no Rio, pra transar com o Millôr, pra ele ter tempo de escrever, de conversar comigo. Aí, eu não vi o Millôr.
	Eu fiquei tão frustrado com aquele negócio... E eu não podia voltar pra Belo Horizonte, porque tava todo mundo me esperando chegar com o prefácio.
	A viagem de volta já estava marcada e eu só pensava neles me esperando com o prefácio original do Millôr.
	Lá em Belo Horizonte, os meus amigos, o Laércio, o Cajú, o Paulo César, o Bebeto, o Rogêdo; todos me esperando.
	Eu não podia voltar. Isso foi num sábado e eu tinha que voltar no domingo. Então fui pra praia. Fiquei tão chateado que dormi na praia. Tive insolação, fui socorrido por salva-vidas, tive que ir pro Souza Aguiar.
	Aí, saí. Não tinha dinheiro pra ficar no Rio. O Ziraldo ficava me esculhambando: " Ô mineiro, vai de taxi!" e eu só tinha a passagem de volta. Tive que ficar no Rio, dormindo em bancos de jardim, esperando pra voltar pra BH.
	Mas cheguei com o prefácio do Millôr!
	Cheguei com o prefácio do Millôr, de um livro de um cara que o Millôr tinha feito. Eu arranquei, bati à máquina o prefácio como se fosse para o meu. Troquei o nome e todo mundo ficou feliz.
	Isso é o que eu sofri. Para que os humoristas novos saibam o que espera por eles".
	*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor
                                                            
                                
        
        
        
        
        
        
        
        
        
        
        
        
        
        
        
Comentários