“Deixa eu me achegar no teu barraco
Escutar o teu cavaco
E cuidar da tua roupa
Deixa eu ir contigo à batucada
Te abraçar na madrugada
Desse encontro não me poupa”
- Athaliba, esses versos são da música “Antes que eu volte a ser nada”, de autoria de Leci Brandão. A composição deu título ao disco de estreia dela, em 1975, há 50 anos. E como sinalizei que, na biografia Beth Carvalho - Uma vida pelo samba, a cantora faz apelo para os sambistas se engajarem na política, ocê pegou o gancho e deitou falação sobre a militância dela, na crônica “Sambistas na política” (clique e leia). Leci, sambista e política, é exemplo a ser seguido.
- Marineth, sigo a carreira artística dela desde o início. Leci está no exercício do seu quarto mandato seguido de deputada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Está filiada ao PCdoB - Partido Comunista do Brasil, desde 2010, tendo sido eleita com mais de 85 mil votos. Foi reeleita com 71 mil votos, em 2014. Teve o mandato renovado em 2018, com 64 mil votos. Em 2022 obteve 90.496 votos. É a primeira mulher negra a cumprir quatro mandatos na ALESP.
- É isso aí, Athaliba! No repertório do disco Antes que eu volte a ser nada, ela é autora de quase todas as músicas: “Pensando em Donga”, “Cadê Mariza”, “Pranto colorido“, “G.R.E. de Samba”, “Ele, o compositor de samba”, “Pudim de queijo”, “Simples pessoa”, “Pra Vilma Nascimento” e “Pranto colorido”, com Jorge Pessanha. “Flor esmaecida”, “A mais querida” e “Meu dia de graça”, são de Tocô da Mocidade, Padeirinho e Dedé da Portela, respectivamente.
- Marineth, a música título, na 2ª parte, tem os versos “Deixa eu me aprumar/Me entregar a tanta coisa/Pra ser nada/Deixa eu curtir esta alegria/Antes que retorne o dia em que eu volte a ser nada”. A música foi classificada no Festival Abertura, da TV Globo, o que a ajudou a assinar contrato com a gravadora Marcus Pereira para lançar o disco. O festival foi vencido por Carlinhos Vergueiro, com “Como um ladrão”; tendo “Fato consumado”, de Djavan, em segundo lugar.
- Athaliba, a Leci integra a Ala de Compositores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, desde 1972. Ocê faz idéia o que o fato significa: romper a bolha machista do universo do samba? Isso há mais de 50 anos, quando tinha roda-de-samba disputada à base de pernada. À época só tinha Dona Ivone Lara na ala de compositores da Império Serrano, nos anos 1960. A Leci teve que justificar seu ingresso na ala, escrevendo carta à qual comparava a Mangueira a uma Universidade do Samba. Esse foi o salvo-conduto imposto e que ela conquistou.
- Marineth, no período de 1984 a 1993, a Leci comentou desfiles das escolas de samba, no Rio de Janeiro, pela TV Globo. Após intervalo de seis anos, voltou a comentar desfiles no Rio, de 2000 a 2001. Depois, entre 2002 e 2010, comentou desfiles das escolas de samba de São Paulo por aquela emissão de televisão. Em 2025, considerada uma das maiores estrelas da agremiação verde-e-rosa, ela iluminou o sambódromo no desfile, no qual foi uma das homenageadas.
- Athaliba, nascida 12/9/1944, em Madureira, no Rio de Janeiro, e criada em Vila Isabel, a compositora, cantora e política, gravou mais de duas dezenas de discos e dois DVDs. Neste ano de 2025 ganhou o título de Doutora Honoris Causa UFSCar - Universidade Federal de São Carlos -, honraria concedida em consideração à trajetória na defesa da cultura, educação, justiça social e no combate ao racismo. Ela é dedicada à defesa das religiões de matriz africana.
- Marineth, em reportagem sobre a Leci, há alguns anos, informei que ela era doutora em Direito. Estudou na ex-Universidade Gama Filho, onde a mãe, Lecy de Assumpção, trabalhara. A artista, porém, me enviou mensagem contradizendo a notícia. Aproveito para esclarecer que a informação surgiu em conversa com o querido amigo, jornalista, advogado e musicólogo Ricardo Cravo Albin. Ele criou o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
- Como atriz, Athaliba, a Leci atuou nos filmes Antônia; Tropa de elite 2 - o inimigo agora é outro, ambos de 2010; e O samba, de 2015. E na novela Xica da Silva, da TV Manchete. Com opção sexual lésbica, participa da luta pelos direitos LGBTQIAPN+. Em 2019, ela regravou “Pra colorir muito mais”, de Arlindo Cruz e Franco, em referência à sigla que representa a diversidade de identidades de gênero e orientações sexuais. Leci Brandão, como se vê, é sambista e política!
Comentários