Coluna

Amor ao livro

O destino dos livros seria o esquecimento sem a intermediação dos livreiros e dos bibliotecários porque o livro não tem pernas para andar sozinho.
 
O livreiro deve ser um incentivador da leitura, um apóstolo do saber.
 
Os capixabas lembram-se com afeto e admiração de Nestor Cinelli, o primeiro grande livreiro do Espírito Santo.
 
Nestor vendia livros fiado. Muitos fregueses só pagaram a conta depois que se formaram.
 
Dizem que, por causa da televisão, as pessoas estão lendo menos. Não sei. Televisão e livro são veículos diferentes.
 
Na televisão eu não posso parar num quadro, como no livro eu me detenho numa página para relê-la e meditar no que li.
 
Não posso na TV fazer algo como escrever notas marginais ao texto.
 
Não posso colocar a televisão debaixo do travesseiro, como que para continuar a leitura durante o sono.
 
Televisão eu não folheio.  Televisão eu não levo comigo para o banco da praça, ou para o consultório médico enquanto espero minha vez de ser atendido.
 
Nem posso fazer algo como abrir uma página ao acaso, ou ler um trecho para a esposa, a avó ou a namorada.
 
A televisão quer me dominar, não sou sujeito, sou objeto.
 
O livro é dócil companheiro, conversa comigo.
 
O livro não grita, não cassa minha liberdade, não quer fazer de mim um autômato.
 
De televisão eu posso gostar.  Amar, amar mesmo, só o livro eu posso amar.
 
Não obstante a disparidade entre o público televisivo e o público que frequenta o livro, a influência dos textos produzidos pelo invento de Gutenberg impressiona e espanta.
 
Não foi sem razão que, no decorrer da História, os livros foram censurados, apreendidos e queimados pelos déspotas.
 
Devo a uma bibliotecária grande parte do amor que adquiri pelos livros.
 
Eu a chamava de Dona Telma.  Era a responsável pela Biblioteca Municipal de Cachoeiro de Itapemirim.
 
Indicava-me e aos colegas os bons livros.
 
Transmitia aos frequentadores de nossa Biblioteca Pública o gosto que ela própria tinha pela leitura.
 
Ensinava-nos a conservar os livros com capricho, cuidado e carinho.
 
Sempre gostei de ganhar livros e doar livros.
 
Recebo o presente de um bom livro como quem recebe um tesouro.
*João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado (ES), palestrante e escritor.

João Baptista Herkenhoff (ES)

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Direito e Cidadania

JOÃO BATISTA HERKENHOFF, é Juiz de Direito aposentado. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória e também um dos fundadores do Comitê Brasileiro da Anistia (CBA/ES). Por seu compromisso com as lutas libertárias, respondeu a processo perante o Tribunal de Justiça (ES), tendo sido o processo arquivado graças ao voto de um desembargador hoje falecido, porém jamais esquecido. Autor de Direitos Humanos: uma ideia, muitas vozes (Editora Santuário, Aparecida, SP).

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