Coluna

Ergonomia: investimento reduz riscos para a saúde do trabalhador e gera economia para a empresa

A ergonomia consiste no estudo da adaptação do homem ao seu ambiente de trabalho. Visa a proporcionar acima de tudo o máximo de conforto, segurança e desempenho. Quando falamos em condições de trabalho, incluímos diversas situações, como o levantamento, transporte, movimentação de carga, mobiliário, equipamentos, maquinários, condições ambientais de trabalho e organização.

A primeira vez que se falou em ergonomia foi no ano de 1713, quando Bernardino Ramazzini, hoje considerado o “Pai da Medicina do Trabalho”, mencionou em seu livro a existência da doença acometida pelos Escribas e Notários que, segundo ele, surgiu devido a três fatores: a contínua vida sedentária, o repetido movimento das mãos e a constante atenção para não manchar os livros e não prejudicar os empregadores no entendimento das somas e outras operações.

No Brasil, a legislação é recente, datada em 23 de novembro de 1990, pela Portaria nº 3751 NR-17. Segundo o Anuário Estatístico de 2013, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) registrou 101.814 mil ocorrências, porém, acredita-se que estes números não retratem a realidade, pois os casos não são notificados. Em 2012, a Previdência gastou mais de 40 bilhões com problemas com a ergonomia, devido a afastamentos, tratamentos, aposentadorias, entre outras situações.

As atividades mais suscetíveis para o desencadeamento dos problemas ergonômicos são as que desenvolvem atividades repetitivas em linhas de produção, digitação, entre outros. Atualmente os aspectos de riscos são divididos da seguinte maneira:

 - Ergonomia Física: refere-se às características fisiológicas a biomecânica, ou seja, neste caso analisa-se a postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculos-esqueléticos relacionados ao desempenho da função, projeto do posto de trabalho, saúde e segurança.

 - Ergonomia Cognitiva: refere-se aos processos psicológicos como, por exemplo, carga de trabalho, interação homem x computador, estresse, treinamento e interação entre o ser humano e outros elementos do sistema.

 - Ergonomia Organizacional: são os aspectos ligados a cultura organizacional, teletrabalho, otimização de sistema, formas de remuneração, ganho por produtividade, entre outros.

Temos três categorias de postos de trabalhos: sentado, em pé e semi sentado (quando há alternância de posições). Sempre que o trabalho for realizado sentado, devemos projetar ou adequar o posto de trabalho levando em conta distância olho/bancada, mobilidade das cadeiras e espaçamento adequado que facilite o posicionamento corporal.

Nos trabalhos realizados em pé, além dos itens acima, quando a tarefa possui o auxílio de pedal, eles deverão estar posicionados em local de fácil acesso, altura e ângulos adequados, além de peculiaridades que irão facilitar a operação.

Escritórios deverão ter mesas com bordas frontais arredondadas, cadeiras com braço e altura ajustável, encosto reclinável, apoio de leitura e descanso para os pés.

Fatores ambientais também devem ser avaliados como ruído, umidade relativa, temperatura efetiva e iluminação. Lembramos que a ausência de tais situações geram desconforto, irritabilidade, estresse e, consequentemente, perda de produtividade, porém, não geram doenças ocupacionais. Um exemplo clássico para ilustrar está no caso de trabalhar em um dia quente de verão com o ar condicionado desligado.

Nos trabalhos realizados com levantamento, transporte, movimentação e descarga de materiais, o trabalhador deverá receber treinamentos específicos para eliminar danos à saúde. Além disso, a empresa deve limitar o peso que será transportado pelo funcionário, além de analisar se a atividade realizada manualmente pode ser substituída por algum equipamento mecânico.

Outros fatores a serem analisados dizem respeito à organização do trabalho como, por exemplo, a criação de normas de produção, modo operatório, exigência de tempo, determinação de conteúdo de tempo, tarefas e ritmo de trabalho. Atividades que possuem avaliação por desempenho para fins de remuneração também devem ser levadas em conta, pois podem afetar a saúde do trabalhador.

Os operadores de caixa e de telemarketing possuem legislação específica de ergonomia criada em 2007. Os operadores de caixa devem trabalhar em espaço adequado que facilite a movimentação, quinas arredondadas, cadeira adequada, espaço para manipulação de mercadoria, apoio para pés, além do posicionamento do operador que deve receber cuidado especial para evitar torções.

Nas empresas de telemarketing, os cuidados devem estar presentes em alguns itens, tais como mobiliários, espaçamento, tratamento acústico, condições e organização de trabalho. Outra questão muito importante para a categoria é a carga horária máxima de 6 horas com intervalo de 15 minutos para descanso, horas extras somente em casos excepcionais, normas claras, regras para folgas semanais, finais de semana e feriados, e atenção aos indicadores de reclamações.

As empresas estão sempre em mudanças com novas máquinas e alterações de produção. É importante ressaltar que nestas alterações o aspecto ergonômico deve ser avaliado. O ideal é que seja feito um estudo ergonômico já na fase do projeto, pois muitas irregularidades podem ser evitadas.

Cabe ressaltar que é dever das empresas terem um programa de ergonomia implantado, independentemente do número de funcionários, seguindo a Norma Regulamentadora nº17 Portaria 3.214/78 e suas posteriores alterações.

Os danos osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) causam acréscimo no recolhimento do Fator Acidentário Previdenciário (FAP), aumentam os riscos de acidente de trabalho e contribuem para a redução de processos trabalhistas.

Os empresários devem saber que investir em segurança e realizar um trabalho preventivo proporciona aumento de produtividade, maior satisfação dos funcionários e economia para as empresas.

 

*Marcia Ramazzini é engenheira civil pela PUC Campinas, engenheira em segurança do trabalho e meio ambiente pela Unicamp e mestranda em Saúde Ocupacional também pela Unicamp e atua como assistente técnica em processos judiciais. Tem especializações em Riscos Industriais e Construção Civil pela OSHA (Occupational Safety Health Administration), Ministério do Trabalho dos Estados Unidos. Marcia é diretora da Ramazzini Engenharia e tem 20 anos de experiência de mercado

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