Política

Em novo vazamento de áudio, Renan Calheiros defende alteração na lei de delação premiada

Gravações divulgadas nesta quarta-feira mostram o presidente do Senado criticando a possibilidade de acordo entre presos e a Justiça para ajudar em investigações

 Renan Calheiros alega que os diálogos "não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer tentativa" de interferência na Lava-Jato (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Renan Calheiros alega que os diálogos "não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer tentativa" de interferência na Lava-Jato (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Gravações divulgadas nesta quarta-feira pelo jornal Folha de S.Paulo mostram o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendendo alterações na lei que traz as regras para a delação premiada para evitar que presos colaborem com investigações. Este tem sido o principal meio usado pela força-tarefa da Operação Lava-Jato para obter informações sobre o esquema de pagamento de propina na Petrobras.

As declarações foram feitas por Renan ao ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, a partir de março. Os dois são investigados pela Polícia Federal por envolvimento nos desvios de recursos da Petrobras. Sérgio Machado, que gravou as conversas, fez acordo de delação com a força-tarefa da Lava-Jato, cuja homologação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, ocorreu nesta terça-feira. Com a medida, a delação passa a ter valor jurídico e inquéritos poderão ser abertos para investigar políticos e pessoas que não tenham foro privilegiado.

Em resposta à Folha de S. Paulo, Renan Calheiros afirmou que "os diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer tentativa de interferir na Lava-Jato ou soluções anônamalas". "E não seria o caso, porque nada vai interferir nas investigações."

Trecho da conversa mostra Sérgio Machado sugerindo um pacto para “passar uma borracha no Brasil”. Renan completa que "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo (inaudível) fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação".

Sérgio Machado responde que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estaria "mandando recado" e querendo seduzí-lo para aceitar um acordo de delação premiada. A mudança na lei de delação, mencionada por Renan, poderia beneficiar Machado caso efetivada.

Na conversa, Renan também critica a decisão do STF tomada ano passado, que mantém uma pessoa presa após a condenação em segunda instância. Ele ainda fala em negociar a transição com integrantes do Supremo, mas a qualidade do áudio não permite saber como Renan pretende fazer isso.

Machado questiona Renan sobre o motivo de Dilma "não negociar" com membros do Supremo. O senador responde: "porque todos estão putos com ela".

A assessoria do STF afirmou ao jornal que o presidente do tribunal, Ricardo Lewandovski, "jamais manteve conversas sobre suposta 'transição' ou 'mudanças na legislação penal' com as pessoas citadas".

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